CORONEL GALIANO DAS NEVES: UM ATÍPICO CORONEL DA REPÚBLICA VELHA


Rua Cel. Galiano Emílio das Neves. Passamos por esta rua, uma das transversais da Praça Getúlio Vargas ou nos referimos à ela como “a rua do shopping”. E foi exatamente onde se localiza o shopping que Galiano Emílio das Neves viveu os últimos dias de sua vida. Nascido em São João del-Rei em 1 de maio de 1826, assim que terminou os estudos preparatórios foi para o Rio de Janeiro, ingressando no Curso de Medicina. No entanto, vítima da tuberculose, foi obrigado a interromper a Faculdade e aconselhado, pelos mais notáveis médicos da época, a residir na então Vila do Morro Queimado, em Nova Friburgo, cujo clima saudável e salubre favorecia a convalescência desta doença. Em Friburgo casou-se com Josephina, filha de família tradicional de franco-suíços que possuíam um dos mais importantes hotéis na cidade, o Hotel Salusse. Na sua vida pública foi um republicano histórico, se envolvendo nos primeiros movimentos revolucionários de Minas Gerais contra a monarquia.
Os irmãos de Galiano, Galdino Emiliano das Neves e Joviano Firmino das Neves, também vieram para Friburgo participando da política local. Homens esbeltos e de bela cepa, são ligados ao tronco familiar do ex-presidente Tancredo Neves. O coronel Galiano possuía uma fazenda de café na localidade de Amparo, denominada Cachoeira do Amparo e outra de criação, a Fazenda São Bento, até hoje conservada pela família Seng das Neves. Mas essas propriedades nos iludem imaginando que o coronel Galiano das Neves era o típico coronel durão e matuto da República Velha, agricultor, plantador de café e com plantel de escravos. O título de coronel era uma patente em que todos os civis que compunham a Guarda Nacional a possuíam. Era mais um título honorífico do que em decorrência de uma formação militar. A aquisição de propriedades rurais denotava mais uma questão de distinção e prestígio social do que propriamente tornar-se um grande agricultor, já que o coronel Galiano das Neves trocou o amanho da terra pela educação.
Galiano das Neves adquiriu o Instituto Colegial Freese, do inglês John Freese e lecionava no colégio. Este colégio foi responsável pela formação da elite política fluminense, a exemplo de Casimiro de Abreu. Apreciador da boa música, chegou a fundar na capital federal, antes de vir residir em Friburgo, uma filarmônica denominada Campesina, onde tocava o general Deodoro da Fonseca. Igualmente, teria trazido o maestro Samuel Antonio dos Santos, fundador da Euterpe Friburguense, para Nova Friburgo, contratado como professor de música do Colégio Freese. Quando o colégio fechou, a Campesina, fundada por seu enteado Major Augusto Marques Braga, teria recebido doações de instrumentos Colégio Freese. Mesmo tendo exercido o papel de vereador, presidente da Câmara e integrar o Partido Autonomista Republicano em Friburgo, a política foi secundária na vida dele. Na realidade, seu filho, Galiano Júnior, conhecido na cidade por “Chon-Chon” quem foi aguerrido na política, tornando-se um ferrenho adversário de Galdino do Vale Filho. Apesar de republicano, D. Pedro II o distinguia com especial carinho, tendo-o convidado para um chá no Paço Imperial.
O coronel Galiano nunca foi combativo politicamente, já que eram a educação e a música a sua verdadeira missão. Homem erudito, exímio tocador de rabeca, ou seja, o violino, seu feitio nobre e moderado nunca se compatibilizou com a “tricas de campanário” da política friburguense. Falecido em 05 de maio de 1916, aos 90 anos, foi um personagem lendário em Nova Friburgo, onde todos tiravam o chapéu em respeito e simpatia ao velho coronel. Seu pai lhe deu o nome de um imperador romano para ser um conquistador, mas seu espírito tendia mais para a civilização grega, já que sua grande paixão foi a sabedoria e as artes musicais. Foi um atípico coronel da República Velha.
Crédito: Foto e documento escrito cedido pela família Seng das Neves.



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1 Response to "CORONEL GALIANO DAS NEVES: UM ATÍPICO CORONEL DA REPÚBLICA VELHA"

Anônimo disse...

Parabéns à historiadora. O resgate de nossa história não se traduz em placas de rua francês, mas em inicativas enriquecedoras como o essa.

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