ESCRAVOS OU COLONOS?


O clima de Nova Friburgo, com característica semelhante à de vários países da Europa, sempre atraiu imigrantes do velho mundo. Da primeira imigração de suíços encetada em 1818, seguida por alemães em 1824, todos nós, friburguenses, conhecemos bem, sendo devidamente explorada por professores por ocasião do aniversário da cidade. Porém, Friburgo, no decorrer do século XIX, teve outras experiências na recepção de imigrantes.

Em 1858, a Câmara Municipal de Nova Friburgo recebeu um Aviso do Ministério do Império informando que chegariam da Europa colonos contratados pela Associação Central de Colonização. O aviso solicitava que informasse se havia em Friburgo fazendeiros que desejassem receber colonos. As despesas que os fazendeiros arcariam seriam com as passagens dos referidos colonos, da Europa à Corte, que importavam de 80 a 90$000 réis, aproximadamente, somadas às despesas de hospedagem e comissão. Os fazendeiros obrigar-se-iam, ainda, a fazer às suas custas, a condução dos colonos desde a Corte até o lugar em que se estabeleceriam. Era a denominada “colonização particular”.
Em resposta à Câmara, alguns fazendeiros de Friburgo declararam que já haviam engajado colonos para o seu serviço, porém, em pequena quantidade, devido à escassez deles no “depósito” da Associação. Logo, Friburgo mesmo depois de fracassadas as colonizações iniciais de suíços e alemães, não deixou de dar continuidade ao regime de colonato, tornando-se núcleo de imigração de colonos europeus, ininterruptamente. Afinal, a falta de braços na lavoura sempre foi uma reclamação dos agricultores friburguenses. Mas como se desenvolveu esta terceira onda de imigração?

A princípio, nada satisfatória. Percebe-se que os colonos que vieram para Friburgo não cumpriam os contratos de colonato e “não serviam de boa vontade”, segundo relatos. Isto significa que estes colonos se evadiram das fazendas, deixando os fazendeiros friburguenses, que investiram seus réis, a ver navios. Para contratar mais colonos, os fazendeiros sugeriram que o Governo Imperial desse garantias contratuais de que os colonos serviriam entre quatro e seis anos, tempo mínimo para o retorno dos investimentos realizados, incluindo o tempo de aprendizagem no trabalho que, segundo eles, era inteiramente diferente da Europa. Sugeriu-se ainda, a reserva de um “fundo” para quando o colono terminasse o seu contrato “ter um princípio de vida, tendo segura a sua subsistência e de sua família, tornando-se, no fim daquele tempo, um lavrador em terrenos que o Governo Imperial lhes concedesse pelo preço da medição, dando-lhe um prazo razoável para pagarem”. Com a garantia de acesso à terra dada aos colonos, seria mais fácil obrigá-los a cumprir o contrato de colonato.

Adquirir escravos ou contratar colonos? Qual era o investimento mais vantajoso? Adquirir colonos é claro. Fiz as contas. Para se ter uma idéia de como era mais vantajoso ter colonos, em 1858, um escravo custava 1:840$000(um conto, oitocentos e quarenta mil réis). Considerando que cada colono sairia, incluídas todas as despesas, por aproximadamente 150$000, se contrataria doze colonos ao mesmo preço de um único escravo.

Logo, a história do colonato em Friburgo não se encerra na primeira metade do século XIX. Suas experiências de imigração permeiam a formação social da cidade até o século XX, cuja similaridade com o clima da Europa, a fez tornar-se um ponto de convergência dos imigrantes europeus por mais de um século de sua história.
Fonte: Atas da Câmara de Nova Friburgo.

No Response to "ESCRAVOS OU COLONOS?"

Postar um comentário

AVISO:
É proibido usar palavras de baixo calão neste espaço.
Seja cordial com os outros comentaristas.
Ao fazer críticas, favor fundamentá-las.
Caso esses tópicos não sejam seguidos, os comentários serão deletados sem consulta prévia ao autor.

Related Posts with Thumbnails
powered by Blogger | WordPress by Newwpthemes | Converted by BloggerTheme