Polícia carnavalesca – soldados rolistas e maxixeiros


Na matéria de hoje relato uma situação que ocorreu no carnaval de Nova Friburgo, no início do século XX. Apesar da violência do fato, não deixa também de ser jocoso. Trata-se de um carnaval de rua, onde participava o “Zé-Povinho”, palavras da época, que se divertia a fartar na Rua do Arco, à época denominada Beco do Arco. Até hoje temos a rua com este nome. No passado, era onde moravam as classes populares, com casas do tipo meia-água, estreitas e geminadas. Era onde funcionavam as casas de tavolagem ou alcouces de prostituição e ainda, pequenas oficinas de falsificação de bebidas alcoólicas.
No carnaval, as classes populares se divertiam na Rua do Arco, onde se praticava o entrudo, jogando limões uns nos outros. Mas havia ainda os bailes populares promovidos pelas sociedades musicais da época. Neste último caso, o público era o que corresponderia hoje a uma classe média. Mas vejamos o que ocorreu naquele malfadado carnaval de fevereiro de 1901, em que a população friburguense sofreu a macaca. Segundo o jornal, a polícia, que era paga para garantir a ordem e a tranqüilidade pública, transformou-se durante os três dias de carnaval em verdadeiro “pomo” de discórdia e em ameaça perene ao pacato cidadão que procurava divertir-se durante os folguedos carnavalescos. No primeiro dia de carnaval, enquanto populares se divertiam no Beco do Arco, soldados que se achavam em ronda naquela rua causaram grande distúrbio, pondo em completa debandada os “mansos transeuntes e os inocentes assistentes”. “Transformando sabre em sardinha”, ainda segundo o jornal, a “bambolear” o corpo, com gestos de capoeiragem e atitude agressiva, ameaçavam a tudo e todos, retirando-se “os valentes homens” somente quando o beco ficou deserto pela fuga precipitada do povo indefeso.
Mas o pior ainda estava por vir. Além de diversos conflitos com população durante o carnaval, no terceiro e último dia provocaram novo sarrilho na sede da Sociedade Musical Estrela, na Rua Gal. Osório, onde ocorria um baile de carnaval. Os “heróicos” homens trocaram o Campo de Marte pelo do Momo. Invadiram a sede da Sociedade Musical Estrela, apesar do protesto dos sócios, avançaram com ganância sobre a mesa de um botequim comendo todos os pastéis, beberam quanto quiseram e se retiraram para a sala do baile, recusando-se a efetuar o pagamento do que haviam consumido. Na sala do baile, “tomaram a pulso” parte nas danças e ao som de um tango “choroso e mole” dançaram os policiais num “maxixe quebrado e dengoso”, a folgar carnavalescamente. O subdelegado, esquecendo-se também da posição de seu cargo, atirou-se num “choro gostoso”, gritando: “Não sou autoridade, não sou nada! Sou um homem como os demais!” Depois de quebrarem uma talha d´água transformando a sala em um vasto lago, o subdelegado e os soldados em promíscua confusão, ao som de uma habanera, deixaram a sede em roxo fandanguassú. Chegando à rua, com a voz esganiçada, falavam aos assustados transeuntes: “vocês nos conhecem? Nós somos os encarregados de velar pela segurança e tranqüilidade pública!”.
Apesar do delegado haver prometido descontar dos soldos dos soldados as despesas das bebidas, pastéis e doces que haviam se refestelado, além da talha que quebraram quando estiveram “bamboleando com o corpo”, o encarregado do baile ficou a ver navios, “pois do cobre, nem sombra”. Concluía o jornal na matéria “Polícia Carnavalesca – soldados rolistas e maxixeiros”: “Durma-se com um barulho deste!”
Fonte: Jornal O Friburguense. Fundação D.João VI de Nova Friburgo.

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