Acima: Residência dos Galdino do Vale, em Nova Friburgo, tombado pelo Patrimônio Histórico.
Quem nunca teve a curiosidade em ver os presentes de uma noiva? Quais foram os presentes e quem deu o que? Bem, acredito que a curiosidade aumente ainda mais quando se trata de um casamento realizado há oitenta anos atrás, em 1929. Trata-se do enlace da filha do deputado federal e importante político local Galdino do Vale Filho, Sylvia Veiga do Valle com Alair Accioli Antunes. Antes de relacionar os presentes vamos analisar algumas práticas da época retiradas tão somente dessa lista, cujos fragmentos podem nos dar pistas do comportamento da elite no passado. O que surpreende inicialmente é a própria publicação da lista de presentes no jornal A PAZ, de propriedade do pai da noiva. Um gesto, como o de presentear, que hoje faz parte de nossa mais pura privacidade era divulgado no jornal com ostentação, inclusive relacionando os nomes das pessoas com os presentes que deram aos noivos, o que demonstra nossa diferença de comportamento em relação aos nossos antepassados. Segundo é a troca de presentes entre os próprios noivos no dia do casamento. Uma gentileza entre os consortes que não existe mais nos tempos atuais. Era comum também o sogro presentear com objetos pessoais os cônjuges. Por fim, analisemos a própria relação de presentes.
Eletrodomésticos como geladeira, televisão e mobiliário não era uma prática de se presentear naquela época, e no máximo um abajur, diferentemente de hoje, o que nos faz imaginar que “quem casa quer casa”, ou seja, subentende-se que os noivos já possuam sua casa devidamente aparelhada, ao menos, nos casamentos da elite. Os presentes de adornos da casa se restringem a objetos e peças complementares de uso doméstico, a exemplo de aparelhos de chá e cestas de frutas. A prata e a porcelana, dois materiais tão prestigiados nos tempos do Império, sai de moda e entra o cristal e o lalique – um tipo especial de vidro usado à época em fracos de perfumes franceses –, prevalecendo entre os objetos presenteados. Era comum também se presentear com dinheiro, como foi o caso de dois cheques recebidos pelos noivos. Finalmente, o que chama a atenção são os objetos de uso pessoal que se destacam na referida lista, ao contrário do que acontece hoje, onde é raro se presentear os noivos com esse tipo de regalo e igualmente com imagens de santos.
Era costume no dia da festa de casamento, que era na casa da noiva, expor os presentes de núpcias em um determinado cômodo, e que se denominava à época de corbeille. Esse ambiente era devidamente decorado e enfeitado com delicados adereços. Na corbeille dos noivos Sylvia Valle e Alair Antunes, “fina e de muito gosto”, conforme o jornal, havia os seguintes presentes:
uma linda placa de platina e brilhantes; um anel com esmeraldas e brilhantes, em platina; uma medalha de madrepérola e diamantes; um relógio de esmalte; um aparelho para toilette de lalique; um estojo em esmalte e prata para bolsa, do noivo para a noiva; um alfinete de gravata com pérola e platina da noiva ao noivo; uma pulseira-relógio de platina e brilhantes; um par de botões para camisa de platina e rubis; um anel de platina com brilhantes e uma imagem de Santa Terezinha dado à noiva pelo pai Galdino Filho; uma pulseira de brilhantes; uma artística escrivaninha de prata – o Keiser – dado ao noivo pelo sogro Galdino Filho; um serviço de taças de cristal com incrustações de prata do mesmo aos noivos; um bibelô de marfim; vários licoreiros de cristal e igualmente floreiras de porcelana; um relógio de cabeceira; um estojo de prata de lei para unhas e um relógio de esmalte e ouro; um cofre de prata para jóias; um peso de papel de cristal e prata; um livro de orações; uma jarra de lalique; um bonbonière de cristal da Bohemia; um abajur; um porta-jóias de cristal e prata; uma cigarreira de esmalte e prata; uma imagem de N.S. Aparecida e uma almofada de pelica com pintura a óleo; um sache de plumas; uma jarra de porcelana portuguesa; um bibelô de marfim; um cinzeiro de cristal com incrustações de ouro e turmalinas; uma fruteira de prata; uma lâmpada de lalique; um cheque do coronel Alfredo Martins e da viúva Moraes Grey; um par de lâmpadas brule-parfun; um serviço de prata para chá do avô Galdino Antonio do Vale; um completo faqueiro da cristofle; um porta-cartões de cristal da Bohemia com bronze; abotoaduras; uma jarra de cristal e finalmente uma pulseira de ouro velho cinzelado de seu irmão Cláudio Veiga do Valle.
Pergunta-se: Por que ostentar tão rica lista de presentes relacionando inclusive os nomes dos que presentearam? Demonstração de poder por parte da elite ou mero capricho exibicionista? Essa matéria serve apenas para demonstrar que pequenos gestos simbólicos, como uma mera lista de casamento, nos leva a conhecer o comportamento de uma sociedade no passado.
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