SOLDADOS OU COLONOS? A Imigração Alemã – Parte 4


Colonos alemães no Brasil



No início do século 19, Nova Friburgo foi objeto de duas imigrações: de suíços e alemães. No entanto, essas imigrações possuíam contextos políticos absolutamente díspares. No caso dos colonos suíços, houve um projeto político de assentamento de imigrantes para substituir a mão de obra escrava gradativamente, pois a pressão inglesa pelo fim da escravidão era intensa. Já em relação aos colonos alemães não havia uma política de colonização stricto sensu no governo de D. Pedro I. A maior preocupação da época era a obtenção do reconhecimento da independência junto à comunidade internacional; a possibilidade de uma retaliação militar por parte de Portugal; a guerra contra a Argentina na disputa pelo Uruguai e as revoluções intestinas. Os colonos alemães foram tão somente o esteio para que mercenários pudessem emigrar para o Brasil, pois seus países de origem proibiam a contratação de soldados. Desejava-se a expertise dos soldados alemães, adquirida nas guerras napoleônicas, para a recente Força Armada Brasileira. A inexistência de uma política de colonização pode parecer estranha para quem tem à frente do governo José Bonifácio, o maior arauto da imigração de estrangeiros para a substituição do braço escravo pelo livre. Foi inclusive o incentivador da reforma agrária no Brasil para minar os latifúndios. Mas devido à circunstância acima colocada, o país necessitava de soldados e não de colonos. No entanto, José Bonifácio tentou conjugar as duas coisas e cogitara, de início, em estabelecer uma colônia rural-militar no país, introduzindo cossacos russos com a mesma organização dos Cossacos do Don e do Ural. Essa excentricidade devia-se ao fato dos cossacos russos serem meio soldados e meio agricultores e com isso disfarçavam a contratação de soldados e arrestavam a reação portuguesa. Por dificuldades que se desconhece, Bonifácio acabou substituindo os cossacos pelos alemães.



Cossacos alemães:


José Bonifácio, ainda que objetivando a contratação de soldados, a que denominou de indivíduos de 1° classe, não deixou de pensar na colonização, pois estipulou nas Instruções que ao fim de seis anos de serviço militar, poderiam os soldados dar baixa e receber terras para cultivar, passando para a 2° classe, ou seja, à condição de colonos. Porém, a prova de que não desejava colonos naquele momento veio de um fato interessante. Uma comuna inteira, composta de 300 famílias, a Comuna de Haagen, do Reino de Wurtemberg, cujos membros possuíam diversos ramos de “indústrias”, quiseram emigrar para o Brasil, mas o governo brasileiro não quis custear as passagens. O governo não abria mão do pagamento das passagens por parte dos colonos, e somente custeava a dos que desejassem assentar praça no Exército Imperial, o que não era o caso dessa comuna. Logo, está bem claro que o governo brasileiro não tinha naquele momento uma política de colonização nos moldes do que ocorreu quando da imigração dos suíços ao Brasil. Nova Friburgo nunca esteve nos planos de Schäffer. Os imigrantes alemães destinavam-se às colônias de Frankenthal e Leopoldina, na Bahia, ao lado das sesmarias abiscoitadas por Schäffer e seu sócio Henning.


Mas por que então os colonos dos navios Argus e do Caroline foram parar na vila de Nova Friburgo? Acreditamos que tenha sido porque Schäffer, por uma questão de sorte, conseguiu embarcar muito antes do esperado pelo governo brasileiro, os primeiros navios, o Argus e depois o Caroline. Disse sorte porque conheceu, em Frankfurt, o Prof. Kretzschmar que agenciava a emigração de colonos para outros países e já tinha um grupo de 600 imigrantes prontos para embarcar. Isso corrobora com o fato de nesses dois primeiros navios terem vindo muito mais colonos do que desejavam as autoridades brasileiras, pois Kretzschmar se dedicava a emigração especificamente de colonos e não de soldados. Logo, foi em razão da agilidade em que chegaram os primeiros navios com alemães ao Rio de Janeiro, que Nova Friburgo entrou nessa história. Ao que parece, as colônias de Frankenthal e Leopoldina, estabelecidas desde 1816, ainda não estavam prontas para recebê-los e tiveram que improvisar em outro lugar. A improvisação foi tanta que Conrado Meyer, que os conduzia, sabiamente pegou um navio inglês no meio do trajeto para chegar antes do Argus e preparar a instalação dos colonos. Os soldados já tinham destino certo, os quartéis. Mas onde assentar as famílias de colonos?


Naturalmente se lembraram da primeira colônia de suíços instalada no Brasil: Nova Friburgo. Era próxima ao Rio de Janeiro, tinha na ocasião muitas terras abandonadas pelos suíços, casas para recebê-los e o Núcleo dos Colonos de Nova Friburgo precisava ser revitalizado, pois foi considerado um grande fracasso à época. Foram aplicadas aos colonos alemães as mesmas vantagens dos colonos suíços estipuladas nas condições do decreto de 16 de maio de 1818, como a distribuição de datas de terras e o pagamento de subsídios. No entanto, a Câmara Municipal de Nova Friburgo não isentou os alemães do pagamento de imposto sobre os “ofícios”, como tinham direito os suíços. Os problemas enfrentados pelos colonos alemães foram às mesmas dos suíços: distribuição de terras improdutivas, subsídios recebidos à custa de muitas rogativas, dificuldade de chegar aos mercados por conta das péssimas estradas e caminhos. Mas por que se preocupar com os colonos, se o que o governo brasileiro desejava era que os braços fortes dos alemães portassem não enxadas, mas espingardas de pederneiras? Na próxima matéria “A Depuração da Europa”.

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