Nova Friburgo: A Colônia Mãe dos Imigrantes Europeus - A Imigração Alemã – Parte 11


Como o espaço não permite observações, seguem trechos da carta do pastor luterano Sauerbronn aos seus parentes na Alemanha. Sauerbronn chegou à Nova Friburgo em 1824, juntamente com os primeiros colonos alemães e nos legou interessantes observações sobre a economia e o cotidiano da vila de Nova Friburgo:


“...Um dia antes da chegada em Santa Cruz, à capital de Tenerife, fomos abordados por um pirata africano que tinha 100 homens e 36 canhões a bordo. A meio tiro de espingarda de distância, os homens do navio pirata carregaram seus fuzis; junto a cada canhão estava um homem pronto a abrir fogo. O pirata com voz horrível, mandou que baixássemos nossas velas. Depois ele se dirigiu a bordo, acompanhado por um único companheiro, ambos vestidos com um uniforme pitoresco. Ele viu nossos rostos assustados de medo e se convencendo que o nosso navio era um pobre transporte de colonos, mudou seu tom; ofereceu-nos frutas como uvas, figos, laranjas, maçãs, como também vinho e aguardente. Após o susto, seguimos a viagem com alegria. Após a nossa chegada a Santa Cruz, soubemos que o mesmo pirata havia capturado um navio mercante um dia antes, em frente aos muros de Santa Cruz. (...)Chegamos ao Porto do Rio de Janeiro após oito meses de nossa partida da Alemanha. Chegamos ao destino em janeiro de 1824 (...) Os colonos chegaram a uma vasta área pertencente ao Imperador, chamada Armação[Niterói] e eu consegui com minha família uma casa excelente com livre alimentação junto a Monsenhor Miranda, Inspetor da Colonização Estrangeira ocupando uma posição de ministro. Ficamos três meses e meio por conta do Imperador e todos em dulce júbilo.



O Imperador e a Imperatriz nos visitaram várias vezes; eram muito condescendentes e conversavam com cada criança. Dia 25 de abril fomos transportados por conta ainda do Imperador para aqui Nova Friburgo, 40 horas distante do Rio de Janeiro. O lugar tem tamanho aproximado de Glanddernheim e consta de prédios pertencentes ao Imperador, prédios de um andar com telhados muito bons, quatro quartos cada um. O piso não é como na Alemanha, em tábuas, mas de palhinha, o que tem muito aqui ou de terra batida, como é na Alemanha o piso dos celeiros. Cada família ganhou uma casa e por ano e meio, diariamente um franco e meio potac por cabeça, o que é suficiente. Durante este ano e meio, cada família é obrigada a cultivar uma parte das terras e lá construir uma casa. Isto torna possível dentro de três meses que novos colonos encontrem moradia. Nova Friburgo é, portanto, a colônia mãe de onde os colonos europeus são distribuídos para outras terras.(...) Os meus correligionários viajam 40 horas, para ver e ouvir o seu Salvador, como eles me chama.(...) os meus filhos estão com boa saúde e os garotos freqüentam a escola do Imperador, com um professor suíço, que foi formado na Suíça, para ensinar os cursos primários e secundário. Eles têm progredido muito nas línguas portuguesa e francesa. Nunca na Alemanha eles aprenderiam em tão pouco tempo. Minha filha Charlotte manda mil abraços; vocês não a reconheceriam mais. Ela cresceu, tornou-se uma donzela e já tem admiradores, mas para alegria do pai continua respeitada. Ela herdou todas as virtudes da mãe.(...)


No verão é muito quente mas o calor é suportável pois dura somente 12 horas por dia, as noites são mais frescas que na Europa. O inverno em Nova Friburgo não é fresco, mas frio, tão frio, tão frio que vi nas partes da manhã até as dez horas uma crosta de gelo na água e não me arrependi de ter trazido da Alemanha uma coberta de penas.(...) Vejo aqui ao lado do cafezeiro[cafeeiro] o que pode parecer impossível mas é a pura verdade. Pés de maçã ao lado de um limoeiro, uma cerejeira ao lado de batatas, deliciosos abacaxis e bananas ao lado de laranjeiras e videiras. Todos os legumes da Europa podem ser encontrados aqui. Temos ainda os produtos que os suíços cultivaram; o milho cresce bem e alimenta homens e animais; batatas de todos os tipos, beterrabas amarelas e brancas. Vê-se aqui o melhor trigo alemão, mas bem mais perfeito. Aveia e cevada não são cultivadas pela preguiça dos suíços. Cavalo, mulas, vacas, bois, suínos, ovelhas, patos, gansos, galinhas, perus e pombos se encontram de muito boa qualidade; todos são alimentados com milho. O gado se encontra todo o ano nos pastos e retorna normalmente duas vezes por dia à casa do dono para ganhar mãos de milho. A carne de boi não é tão boa como na Alemanha, mas a carne de porco é bem melhor e mais vigorosa; a de carneiro é pouco consumida, pois é tido como pouco saudável; a carne das aves é muito melhor do que na Alemanha. Caça exista aqui de várias espécies, mas muito menos do que na Alemanha, pois os animais selvagens se retiram das regiões cultivadas para o mato, onde não podem ser seguidos. Animais ferozes perigosos para o homem não existem e as cobras que causavam o maior medo à nossa chegada são muito raras. Eu vi até aqui agora somente duas; elas estão fugindo dos homens. Só morde se são pisadas, mas existem remédios infalíveis. A videira se desenvolve bem aqui na colônia, mas os suíços somente a cultivavam em pomar. Todo o vinho consumido aqui provém da França e de Portugal; a cerveja é importada da Inglaterra. Até agora, ninguém tentou fazer cerveja aqui [Em 1861, Pedro Gerhart abriria em Friburgo a primeira fábrica de cerveja]. Ela é mais cara que o vinho, mas é muito consumida na capital. A bebida principal de todos os brasileiros é a cachaça a qual é destilada de cana e laranja e é muito barata. A garrafa vale 12 kronen. Esta bebida deve ser apropriada para este clima.


Cada brasileiro tem normalmente algumas mulas e cavalos. Por falta de estradas tudo tem que ser transportado nas costas. Somente perto das cidades existem vias transitáveis. Todo resto são picadas ou atalhos que passam muitas vezes em cima de pedras grandes, mas facilmente vencidas pelas mulas e cavalos. Se os brasileiros têm de andar somente uma distância de 200 pés, montam a cavalo e andam galopando. As mulheres de todas as classes também montam a cavalo como os homens e vocês iriam ficar admirados vendo a minha Charlotte montar os meus dois garanhões.(...)Caso possam trazer 2 mil gulden[dinheiro alemão] vocês ganharão numa distância pequena de seis horas a Nova Friburgo fazendas já cultivadas, com gado e tudo que é necessário para viver; fazendas parcialmente plantadas as quais com o auxílio de dois escravos que aqui fazem tudo, dentro de um ano podem ficar completamente cultivadas. Eu conheço e forneço essas fazendas aqui em Nova Friburgo. Não nos falta nada, somente mãos para trabalhar. Por isso, quanto maior a família, mais rica ela será.” Nova Friburgo, 10 de setembro de 1824."




Fotos de imigrantes alemães do sul do país. Fonte: Blog "Memória do Povo alemão".

No Response to "Nova Friburgo: A Colônia Mãe dos Imigrantes Europeus - A Imigração Alemã – Parte 11"

Postar um comentário

AVISO:
É proibido usar palavras de baixo calão neste espaço.
Seja cordial com os outros comentaristas.
Ao fazer críticas, favor fundamentá-las.
Caso esses tópicos não sejam seguidos, os comentários serão deletados sem consulta prévia ao autor.

Related Posts with Thumbnails
powered by Blogger | WordPress by Newwpthemes | Converted by BloggerTheme