PRECISA-SE DE AMAS-DE-LEITE, MADEIXAS E LACAIOS DA COLÔNIA NOVA FRIBURGO






A Imperatriz Leopoldina, esposa de D. Pedro I, solicitou certa feita dois rapazes de “boa aparência” da colônia da Nova Friburgo para servir como lacaios. Poderiam ser suíços ou alemães, mas de preferência que soubessem o idioma francês. Logo em seguida, surgiu outro pedido inusitado: o diretor da colônia deveria providenciar uma cabeleira de colonas para a confecção de perucas para a Imperatriz. “Mandou-me a S. M. Imperatriz que fizesse toda a diligência possível por cabelos que sejam exatamente da cor dos que envio para amostra, e que tenham de comprimento um palmo pelo menos(...)No caso de que V. Sa. os ache, dê alguma coisa a pessoa de quem eles forem.” A austríaca Leopoldina era uma mulher loura, de olhos claros e certamente considerou que as suíças e alemães da colônia da Nova Friburgo poderiam fornecer-lhe madeixas próximas ao seu tom alourado de cabelo. Possivelmente deveria ter dificuldade em conseguir no Brasil essas madeixas já que a maior parte da população era morena. Porém, a sua solicitação mais importante ocorrera alguns anos antes, quando do nascimento de seu filho, o futuro Imperador D. Pedro II.


Pedro de Alcântara era o sétimo filho de D. Pedro I e da arquiduquesa Leopoldina. Nascido em 2 de dezembro de 1825, sucedeu o pai que renunciou em seu favor ao trono do Brasil, tornando-se o futuro Imperador Pedro II. O nascimento do futuro príncipe ou infanta provocaria uma série de correspondências entre o diretor da colônia de Nova Friburgo, Francisco de Salles Ferreira de Souza, e o Inspetor da Colonização, Monsenhor Miranda. O motivo era que a família real desejava para amamentar o próximo herdeiro do trono uma colona suíça, ou melhor, os seios úberes de uma colona que vivia na salubre vila de Nova Friburgo. No século 19, os médicos higienistas passaram a estabelecer uma relação entre o aleitamento mercenário das amas-de-leite e a mortalidade infantil, detonando o processo de criação da mãe higiênica, ou seja, aquela que amamenta o seu rebento. O discurso médico preconizando a amamentação por parte da mãe somente surtiria seus efeitos ao final daquele século. Antes disso, vivia-se no império das amas-de-leite. Entre as muitas justificativas para que as mães não amamentassem, circulava a ideia de que as relações sexuais corrompiam o leite.
Monsenhor Miranda solicitou duas colonas suíças, casadas ou solteiras, que tivessem parido e em circunstância de serem amas do futuro Príncipe ou Infanta que se esperava. As mulheres obviamente deveriam gozar de boa saúde, ter maneiras polidas, bons dentes e não estar trabalhando na lavoura. Como havia naquele momento recentemente chegado a Nova Friburgo colonas alemãs, caso as suíças não se adequassem ao perfil solicitado, elas igualmente serviriam. Coube ao médico Dr. Bazet realizar as necessárias averiguações e escolha das amas-de-leite e as acompanharia até a Corte. No entanto, as duas primeiras colonas enviadas pelo diretor da colônia foram devolvidas. Há referência na correspondência entre Monsenhor Miranda e a administração colonial que a colona Annette, filha do colono suíço João Werner, foi rejeitada por possuir “moléstia” e a mulher de Kuentzi por ter sido considerada “incapaz.”


Antonio José Paiva Guedes d´Andrade, secretário de Inspeção da Colonização Estrangeira envia nova correspondência à vila de Nova Friburgo solicitando outras colonas. O dr. Jean Bazet não precisaria mais acompanhá-las mas tão somente o marido ou o pai, caso fosse essa última solteira. Foi selecionada a colona suíça Leonor Frotè. No entanto, ocorreu uma tragédia. Quando de sua viagem à Corte, o pai de Leonor Frotè morreu afogado caindo do barco na localidade do Sítio da Paciência. Pode ser que tal tragédia tenha afetado a colona psicologicamente, pois foi rejeitada por possuir uma “purgação contínua.” Optou-se então enviar mais três colonas aptas a amamentarem e a seleção seria feita na própria Corte. Foram selecionadas as colonas Izabel Falz, Doline Bellet e Maria Josephina Gavillet. Segundo Pedro Cúrio no livro “Como surgiu Friburgo”, entre essas foi escolhida como ama-de-leite Doline Bellet, que escreveu: ‘Acho-me muito honrada em ser escolhida para servir no palácio imperial, como ama-de-leite; porém tomo a liberdade de informar a V. Sa. que desejo muito, para meu sossego, que meu marido seja admitido no palácio, para cuidar da minha criança com aquele mimo que só pode ter um pai. Portanto, peço a V. Sa. como um grande favor que queira me dar uma recomendação para me ajudar a alcançar o meu desejo. Sou com todo o respeito a humilde criada. Doline Bellet.” No entanto, José Murilo de Carvalho no livro “D. Pedro II” nos informa que coube a colona suíça Maria Catarina Equey a honra de amamentar o príncipe Pedro de Alcântara. Segundo esse autor, a família real acreditava ser mais saudável empregar uma mulher branca e europeia do que as negras amas-de-leite. A Imperatriz Leopoldina já havia solicitado uma ama-de-leite alemã para seu filinho Dom João Carlos, que nascera em 06 de março de 1821.
Era comum as escravas amamentarem os filhos da elite daquela época. No entanto, a família real optou por colonas brancas e europeias. A solicitação deve ter partido da própria Imperatriz Leopoldina que, sendo austríaca, talvez tivesse algum tipo de preconceito com relação às amas-de-leite negras. Logo, a colônia de Nova Friburgo, criada para abastecer a Corte de gêneros alimentícios do amanho de suas terras, prestou-se a fornecer dos seios úberes de suas colonas,o leite para alimentar D. Pedro II, o último Imperador do Brasil.


Diferentemente do costume da elite brasileira da época, que utilizava

africanas, a Imperatriz Leopoldina optou por uma ama-de-leite suíça.


10 Response to "PRECISA-SE DE AMAS-DE-LEITE, MADEIXAS E LACAIOS DA COLÔNIA NOVA FRIBURGO"

Sandra disse...

Bom dia,

Trabalho na Lúmen Editorial, gostaríamos de reproduzir uma imagem de ama de leite na capa de um de nosso livros. Por gentileza, peço informar quem são os detentores dos direitos das imagem que estão logo abaixo da frase "Diferentemente do costume da elite brasileira da época, que utilizava africanas, a Imperatriz Leopoldina optou por uma ama-de-leite suíça".

Atenciosamente,

Sandra Regina Fernandes
sandra@lumeneditorial.com.br

Unknown disse...

Quem foi de verdade a Ama de leite de D. Pedro II não foi Maria Francisca de Jesus?

Unknown disse...

D.pedro 1 foi casado com uma mulher

Unknown disse...

Reforço a dúvida acima de Cleusa Vieira de Lima: Não foi Maria Francisca de Jesus Castilho, a famosa "Capa Preta" a Ama de Leite de D. Pedro II?

Unknown disse...

Sim e ela recebeu uma Sesmaria no Noroeste Paulista como recompensa pelos serviços prestados.

Unknown disse...

Sou descendente de D.Maria Francisca de Jesus Castilho,gostaria de obter mais informacoes sobre ela.
Tenho conhecimento do local onde ela esta enterrada perto da minha cidade natal.Desde pequeno meus tios comentavam sobre ela.Vivo em Portugal ha 13 anos e pretendo saber mais sobre ela e como ela foi ama de leite tenho interesse em comprovar esse fato historico de minha trisavo.Desde ja agradeço.

Donizete de Castilho disse...

Meu pai nasceu em Ururai/SP em 1924, onde viveu sua primeira sua primeira infância, e onde está enterrada Maria Eugênia Francisca de Castilho, nossa matriarca, a qual nasceu em 25.07.1862 e faleceu em 07 de janeiro de 1935, porta tanto meu pai e nossa matriarca coexistiram por 11 anos. Pelo que ouvi na família, nossa matriarca era uma cortesã poderosa em Portugal, influente no Brasil, e temida no interior do Estado de São Paulo, e ela e sua família tinha poder, e poder morte e vida sobre os escravos... Mas em 1989, com o fim do império, ela ficou do lado do imperador, junto seus capangas e declarou guerra aos republicanos, mas, sem apoio da coroa sucumbiu em menos de uma semana. Há coisa obscura sobre nossa matriarca, ela era imperialista e braço direito do D. Pedro II, então vem os republicanos e ela fica contra. Os republicanos mandam recolher todas as armas dos imperialistas, trazem novas famílias da europa e distribuem terras... Esse era o mundo que minha matriarca termina seus dias. E com tanta gente querendo esconder quem ela foi, eu creio que os registros de suas posses tenham ocorrido adulteração, afinal, meu pai dizia que propriedade dela iniciava na cidade do Salto/SP e seguia uma faixa de seis léguas das margens do Tietê até o Rio Parana, terra herdada por ter sido muito astuta, afastado as demais amas-de-leite e ter sido quem amamentou o então príncipe. Mas enfim, nunca estudei a história, nem mesmo o livro a Saga da Família Castilho li inteiro. Tudo que sei, ouvi na família.
Fraternal abraço
Donizete de Castilho

João Costa disse...

Também sou descendente da família castilho, inclusive incluído no livro A Saga da Familia Castilho. Tive acesso ao livro, mas não tenho mais. Gostaria de obter um exemplar, mas não estou conseguindo pela Internet. João Batista da Costa, filho de Benedita Castilho.
jbcosta561@gmail.com

Anônimo disse...

Oi Donizete de Castilho...estou fazendo um levantamento histórico de um pequeno bairro que menciona o nome da Matriarca da sua família como tendo sido um tempo dona das terras, passando-as a outro como pagamento de dívidas.
Por acaso poderia me ajudar com mais informações?
Gostaria de saber o que era produzido, cultivado na região e quem era as famílias influentes que ocupavam o local.
Infelizmente por causa da covid19 muitos que eram nascido e carregavam a história na memória faleceram

Anônimo disse...

Me chamo Daniela L. Lira no Facebook

Postar um comentário

AVISO:
É proibido usar palavras de baixo calão neste espaço.
Seja cordial com os outros comentaristas.
Ao fazer críticas, favor fundamentá-las.
Caso esses tópicos não sejam seguidos, os comentários serão deletados sem consulta prévia ao autor.

Related Posts with Thumbnails
powered by Blogger | WordPress by Newwpthemes | Converted by BloggerTheme