Quando li em A Voz da Serra a matéria “Amparo comemora cem anos de reintegração a Nova Friburgo”, senti-me com a missão de escrever algo sobre esse importante distrito. Na celebração do centenário, com uma intensa e elaborada programação, as apresentações musicais são bem ecléticas como samba, forró, gospel, tango, baião, MPB, dança típica suíça e capoeira, traduzindo aquilo que é o Brasil, uma miscigenação de raças e culturas. Contadores de histórias, teatro de fantoches, concurso de boneca viva, jipeiros, gincana, atividades esportivas e os primeiros jogos florais de Amparo, complementam a programação. Comparando com a comemoração do cinquentenário, em 1961, quando era prefeito Amâncio Mário de Azevedo, a celebração fora bem mais cívica e singela, com desfile de escolas, bandas de músicas e à noite um grande baile no Cine-Theatro de Amparo. Aproveitando a presença de autoridades políticas como o prefeito, vereadores e deputados, os amparenses, na ocasião do cinquentenário, não perderam a oportunidade de apresentar sua reivindicação que era, à época, a pavimentação da estrada Zigue-Zag e a que ligava Amparo às Braunes, muito utilizada para se deslocar de Amparo ao centro de Friburgo. A ASSAMAM, Associação de Moradores e Amigos de Amparo era muito articulada e possivelmente pioneira em termos de mobilização de comunidades de bairros. No centenário de reintegração de Amparo à Nova Friburgo, não faltarão clamores e reivindicações aos políticos que comparecerem aos festejos, pois o bairro está absolutamente abandonado pelo poder municipal depois da tragédia de janeiro. É assustador os barrancos e encostas sustidas pela obra do Divino que não viram uma ação sequer do poder público municipal, estadual ou federal. No passado, foram muitas as rogativas dos amparenses pela melhoria de suas estradas e igualmente serão, no presente, para que os órgãos públicos tomem providências no sentido de arrefecer e minimizar o impacto das chuvas de verão.
Para realizar a minha pesquisa sobre a história de Amparo, por mais bizarro que possa parecer, encaminhei-me ao cemitério da vila. Percorri suas alamedas em busca dos túmulos dos primeiros habitantes locais. Os registros mais antigos que localizei foram de enterramentos no último quartel do século XIX. As famílias que se destacam nas transcrições das lápides são de alemães e suíços, a exemplo dos Gripp e dos Frossard, respectivamente, mas igualmente os Alves da Costa. Era natural que ali convivessem suíços e alemães, pois muitas das datas de terras abandonadas pelos colonos suíços, nos Núcleos Coloniais, foram transferidas aos colonos alemães, que vieram justamente para ocupar essas áreas desprezadas por alguns suíços. Já possuía dois importantes pontos de partida: a datação aproximada da ocupação de Amparo e a constatação de que suíços e alemães ocuparam aquelas terras. Logo, Amparo teria uma ocupação territorial que remonta ao século XIX e ocupada por colonos. Mas estava enganada, pois sua ocupação foi anterior, trinta anos antes. A ocupação de Amparo remonta ao final do século XVIII, no último decênio desse século, muito antes do que nos revela o cemitério da vila. Recorrendo a fontes secundárias, foi nos apontamentos do major Heber Alves da Costa, “Amparo Redivivo”, que uma janela abriu-se a respeito de um distrito que tem uma das histórias mais fascinantes.
A região onde se localiza Amparo pertencia inicialmente a Cantagalo. Mas com a criação do Termo de Nova Friburgo, em 1820, Amparo passou a pertencer-lhe, pois fazia parte da Freguesia de São José do Ribeirão. Era uma importante freguesia de Nova Friburgo, devido a uberdade de suas terras. São José do Ribeirão, Sebastiana(Estrada Friburgo-Teresópolis) e Paquequer(Sumidouro) eram importantes freguesias agrícolas de Nova Friburgo. Em 1857, a Freguesia de São José do Ribeirão possuía uma população de “mil almas”, onde cultivava-se o café e a cana-de-açúcar, com predominância do café, e com forte concentração de escravos. Não foi por acaso que quando extinguiu-se a escravidão no Brasil, os moradores da Freguesia de São José do Ribeirão foram um dos que mais se queixaram junto à Câmara Municipal, pleiteando que aquele órgão intermediasse a indenização pelos prejuízos causados.
No centenário de reintegração a Nova Friburgo, fica a seguinte pergunta: por que reintegração? Isso deve-se ao fato de Amparo ter sido anexado a Bom Jardim no início da República. Isso não agradou em nada a população local e depois de incessantes reivindicações conseguiram reverter a situação e tornar a anexar-se, em 1911, a Nova Friburgo. O governo republicano mexeu e remexeu muito as fronteiras dessa região, ao sabor dos caciques políticos. Mas a história de Amparo é muito instigante e cercada de mito e lenda, a exemplo do mito de sua origem: jactam-se seus habitantes ser Amparo a terra dos inconfidentes. Outra é a história de que foi graças ao colono alemão da família Gripp, morador de Amparo, que o café java difundiu-se na província fluminense. E Amparo sediou um dos primeiros núcleos do espiritismo no Brasil e foi um grande produtor de café e celeiro do Rio de Janeiro e de Niterói, na primeira metade do século XX. Convido o leitor de AVS a acompanhar, nas próximas semanas, a história do distrito de Amparo, que sem sombra de dúvida, é uma das mais interessantes de Nova Friburgo.
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