Na segunda metade do século XIX, a elite brasileira passou a procurar as estâncias hidrominerais e termais de Vichy, na França, e Baden-Baden na Alemanha. Descobertas no Brasil a partir do século XVIII, as “caldas”, ou seja, águas quentes, termais, e igualmente as águas minerais, passaram a ser utilizadas por doentes desenganados e enfermos de todas as doenças, buscando-se sítios onde existiam águas tidas não só como milagrosas, mas principalmente, como possuidoras de virtudes medicinais. Em Minas Gerais, “Lagoa Santa”, no Vale do Rio das Velhas, atraía centenas de enfermos que tanto tomavam suas águas como nela se banhavam, devido aos relatos de qualidades terapêuticas e curas milagrosas da lagoa. Na serra do Cubatão, ilha de Santa Catarina, Caldas do Cubatão ganhou notoriedade por sua água termomineral radioativa, com temperatura oscilando em torno de 40 graus centígrados. Caldas do Cubatão passou a denominar-se posteriormente Caldas da Imperatriz, devido a uma visita do casal real, D.Pedro II e D. Teresa Cristina. Igualmente em Itapicuru, na Bahia, as qualidades de suas águas termais ganharam fama no século XVIII.
Os naturalistas Spix e Martius anotaram que as águas quentes de Itapicuru poderiam curar doenças do fígado, gota e reumatismo crônico. As Caldas de Goiás, com águas termais e sulfurosas, com temperatura em torno de 45 graus centígrados, também eram indicadas para o reumatismo e certas paralisias. Um povoado se formou nas cercanias, embrião da atual cidade de Caldas Novas. Poços de Caldas, em Minas Gerais, também se tornou estância hidromineral pela descoberta de suas águas termais, sulfurosas e alcalinas. Esses são apenas alguns exemplos de águas termais, mas existiram muitas outras estâncias como “Monte Alegre”, no Pará, “Olho d´água do milho”, no Rio Grande do Norte, “Salgadinho”, em Pernambuco, “Ibirá”, em São Paulo, “Bandeirante”, no Paraná, “Iraí”, no Rio Grande do Sul e “Touro”, no Mato Grosso.
No século da descoberta das águas com poderes curativos, as águas minerais não ficaram de fora. Os naturalistas, em princípios do século XIX, aludiram às numerosas e excelentes águas minerais encontradas em diferentes partes do país. Um mineralogista chamou a atenção para as águas do Araxá, de propriedades químicas excelentes, capazes de curar inúmeras doenças como a lepra, a sarna e o dartro. Águas “salinas”, “ferruginosas”, “acídulo-gasosas”, “sulfurosas” e “acídulo-ferruginosas” ganharam apoio de médicos hidrologistas e consenso entre os usuários pelas suas qualidades terapêuticas. No século XIX, naturalistas e boticários fizeram a análise da composição físico-química de águas minerais brasileiras. Diversas teses de doutoramento em medicina foram elaboradas sobre as virtudes curativas das águas minerais brasileiras, sobre sua composição e propriedades medicinais. Igualmente, inúmeros artigos e memórias saíram publicados na imprensa médica e leiga do país sobre esse assunto, a exemplo do “Relatório sobre as águas minerais de Baependi (Caxambu), da Campanha (Lambari) e de Caldas, na província de Minas Gerais (1874-75)”.
A crenoterapia ou o tratamento pelas águas minerais começou a se desenvolver no Brasil nas últimas décadas do século XIX. Mas foi no século XX, que passou a ser indicada com frequência e praticada nas estâncias hidrominerais já referidas e notadamente nas de Caxambu, Lambari, Cambuquira, São Lourenço, Pocinhos do Rio Verde e a famosa Araxá, terra de Dona Beja, por suas águas “carbogasosas”, “ferruginosas “alcalino-sulfurosas”, “radioativas” e “magnesianas”. Incentivou trabalhos acadêmicos a exemplo de “Memória sobre as águas hidrossulfuradas, quentes ou não, e sobre a água virtuosa ou acidula da província de Minas Gerais, incluídos seus usos médicos externos e internos (1833)”.
Sem a pretensão de colocar Nova Friburgo no circuito das estâncias hidrominerais do país, o certo é que a vila possuía uma fonte, a Fonte do Suspiro, à qual, até meados do século XX, teciam-se loas sobre a qualidade de suas águas. A Fonte do Suspiro era muito frequentada por doentes. De acordo com a tradição oral, era notório que as águas de suas fontes restauravam a saúde, consolavam os tristes, alentavam os vivos, davam robustez aos fracos, restaurando-lhes o vigor. Faziam lenir as dores dos que sofriam e dizia-se que até mesmo “ressuscitava os quase-mortos”.
A Fonte do Suspiro era um lugar para os que vinham buscar na salubridade do bom clima, o reconforto para o espírito e o retempero para sua saúde, encontrando ali a estesia miraculosa que ergue o ser abatido. A fonte era tão famosa que ganhou uma praça em seu entorno, a atual Praça do Suspiro, que se transformou no mais importante espaço de sociabilidade dos friburguenses no século XIX. O dia 02 de dezembro de 1865, data do aniversário de D. Pedro II, foi escolhida para a inauguração da Praça do Suspiro e de sua afamada fonte. A Praça do Suspiro, no seu projeto de embelezamento, era ornada com coqueiros que a circundavam e com figueiras plantadas ao longo da fonte para assombreá-la. Na realidade, Nova Friburgo foi muito mais reconhecida pela salubridade de seu clima do que pela qualidade terapêutica de suas águas. Mas, na tradição popular brasileira, onde há uma fonte, há sempre a construção de lendas.
Todas as fotos acima são do Parque das Águas de Caxambu, em Minas Gerais.
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