CERVEJAS DE FRIBURGO


Na primeira metade do século XIX, a cerveja consumida no Brasil era importada da Inglaterra. Com a chegada de imigrantes alemães ao Brasil nesse período, o país passa a ganhar suas primeiras fábricas de cerveja. Na colônia alemã de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, fundada em 1826, os alemães importaram o lúpulo e abriram uma fábrica de cerveja, sendo talvez uma das primeiras do Brasil. Em abril de 1861, Pedro Gerhart abre em Friburgo uma fábrica de cerveja e mais adiante Eduardo Salusse com igual estabelecimento. A cerveja torna-se novidade e hábito de consumo do brasileiro a partir do início do século XIX, influência dos ingleses assim como o pão de trigo e o chá. Além dos primeiros colonos alemães que migraram para Nova Friburgo em 1824, o município recebeu em 1892, 703 imigrantes alemães do total de 1.421 que imigraram para a região serrana. É possível que Albano Beauclair tenha vindo neste grupo.

E é a partir de então que se inicia a história da cerveja Friburgo Brau. O Sr. Albano Beauclair abre em 1893, uma fábrica e cervejaria em Friburgo, a Cervejaria Beauclair, possivelmente em razão da excelente e notória qualidade da água de Friburgo, conhecida até mesmo por suas características medicinais. Situada à margem do Rio Santo Antonio, atual Rua Mac-Nivem, era um importante espaço de sociabilidade na cidade. A fábrica de cerveja Beauclair importara todos os aparelhos da Alemanha, onde produzia em média vinte e duas mil garrafas mensalmente. Possuía ainda uma sofisticada máquina de lavar garrafas e outra que experimentava a resistência das mesmas, à base de gás de ácido carbônico. Para o verão, utilizava um resfriador Patent de Neubecker, um engenhoso aparelho para manter a cerveja sempre geladinha. A cervejaria Beauclair adotava o sistema de Munich não só quanto ao maquinário, como no processo de fabricação. O Sr. Albano de Beauclair tinha o diploma de mestre fabricante de cerveja, conferido pela Escola de Cervejaria de Worms, localizado na Alemanha. A fábrica produzia a famosa e saborosa cerveja Friburgo Brau, um produto especial da casa exportada para outras regiões, sendo considerada uma das melhores cervejas nacionais. A Friburgo Brau era muito exaltada nos jornais e um dos orgulhos da cidade. O jornal descreve a Cervejaria Beauclair como “um sítio aprazível, onde a natureza traja sempre galas”, o que seria, na verdade, um Biergarten. O conceito de cervejaria que se difundira no século XIX, as denominadas biergarten, eram locais situados em áreas arborizadas, com jardins, normalmente próximos a um rio, onde se espalhavam mesas e bancos de madeira. Nestes locais, cada um levava seu próprio farnel ou refeição e consumia a cerveja vendida no local. Atualmente, na Baviera, a exemplo de Munique, as biergarten conservam a mesma tradição de outrora. No entanto, já fornecem refeição aos freqüentadores. Logo, a Cervejaria Beauclair aproximava-se desse conceito de biergarten.

Em 1907, Albano Beauclair arrendou a fábrica a Bernardo Dias e companhia, mas continuou a prestar seus serviços. Ao que parece o Sr. Beauclair falecera neste mesmo ano. O novo proprietário mudou o nome para Fábrica de Cerveja Germânia. Neste período, a Cervejaria Germânia já possuía diversas máquinas de pasteurização, lavagem das garrafas, arrolhamento, etc. A cerveja germânia era descrita como de cor topázio, de espuma argêntea e “aurivibrante”. As garrafas tinham rótulos litografados em letras art noveau com o nome de Germânia, impresso em tinta vermelha. Já se providenciava a substituição das rolhas de cortiça, presas a arame, por outras do sistema teutonia. Temos o registro de que a Fábrica Beauclair funcionava ainda em 1930, tendo como proprietários Lima Jaccoud & Companhia. Outra cerveja produzida em Friburgo no final do século XIX foi a Cerveja Suspiro, de propriedade de Gonçalves & Bastos que exportava igualmente para vários pontos do estado. Ainda uma vez foi a natureza que privilegiou Friburgo, pois foi a qualidade de suas águas que gerou a indústria da cerveja local. Como se dizia à época sobre as águas de Friburgo: “Fazia lenir as dores dos que sofriam e até mesmo ressuscitava os quase-mortos.” Mas também rendeu aos nossos antepassados uma boa cervejinha gelada.

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