OS PRETOS DO LIBAMBO


Em Nova Friburgo, no início do século XIX, chamavam de pretos do libambo, os escravos fujões capturados que ficavam à disposição da Câmara Municipal. Eram aprisionados unidos a correntes de ferro para dificultar-lhes nova fuga.


Em Nova Friburgo, os escravos fugitivos capturados por capitães do mato eram mantidos no lugar denominado libambo. Ao arrepio da propriedade alheia, o libambo tinha sido regulamentado no art.22 das primeiras posturas com a finalidade de se utilizar os escravos fujões em obras públicas, enquanto não fossem resgatados por seus senhores. No desespero pela falta de receita, onde as obras públicas só ocorriam na base das subscrições, ou seja, doação dos moradores, tudo era válido. Os “pretos do libambo”, como eram conhecidos pelos friburguenses, eram mantidos unidos por uma corrente de ferro. Em algumas imagens vemos os escravos com argolas de ferro presas ao pescoço, unidas por correntes de ferro. Estas fileiras de escravos unidos eram utilizadas para difiultar-lhes a fuga.


Localizava-se o libambo no centro da vila, mas não comportava qualquer segurança na manutenção dos cativos, havendo fugas constantes. Não era difícil fugir do libambo, pois há registro de inúmeras fugas de escravos. Sedentos de liberdade, os cativos fugiam ainda do rigor da punição aos que evadiam das fazendas. Aos fujões, os juízes de paz decretavam sentenças de açoites que variavam entre 50 e 1.200 chibatadas.

A Câmara era responsável pelos escravos fugitivos, sendo ressarcida das despesas feitas pela sua captura e manutenção pelos donos dos escravos, quando estes os reclamassem. Quanto mais tempo no libambo, maior seria a despesa quando do pagamento do resgate. Na década de 1830, quando o preço do cativo estava barato, poucos em Friburgo reclamavam seus escravos junto à Câmara, já que em muitos casos o valor pago pelo resgate superava ou equiparava o preço dos mesmos. Além do mais, os escravos fujões não eram bem recebidos nas fazendas, pois era um elemento pernicioso para a escravaria. Os escravos fujões eram marcados a ferro pela própria Câmara com a letra F, de fujão, antes de serem entregues aos seus respectivos donos. Passado um período sem que houvesse a reclamação de seus proprietários, eram colocados em praça para arrematação e o valor revertido à Câmara para indenizar-se das despesas de captura e manutenção do mesmo.

Muitas obras públicas e melhoramentos da vila de Nova Friburgo foram realizadas por estes homens apresados enquanto aguardavam o retorno ao cativeiro nas fazendas. Consertavam estradas, cuidavam da manutenção de pontes, limpavam as praças da vila, valas, enfim, todo tipo de serviço para “elegância” da pacata vila de Nova Friburgo. A Câmara também utilizava para serem empregados em serviços públicos, os escravos criminosos presos na cadeia. Presos em troncos de campanha também colaboravam com obras pela vila, já que pelas posturas podia-se aproveitar o trabalho dos escravos detidos, estivessem eles no libambo ou na cadeia. Ainda que sob calcetas e a vigilância dos pedestres – uma espécie de guarda - que os fiscalizava e lhes dirigia o serviço, o trabalho nas obras era sempre uma oportunidade de fuga.


Um “Preto e um “burro”, como se dizia à época em Friburgo, eram de vital importância para a infra-estrutura da vila, principalmente nos primeiros momentos de sua formação onde a receita era exígua e o governo provincial não auxiliava em quase nada. Falarei mais adiante sobre outros aspectos da escravidão em Nova Friburgo, uma cidade escravocrata, longe daquela representação de "Suíça Brasileira" que nos querem impor.
Fonte: Atas da Câmara Municial de Nova Friburgo.

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