O SÉCULO XIX: O SÉCULO DA IMPRENSA


Acima: José Antonio de Souza Cardoso e seu filho Augusto Cardoso, proprietários de O Friburguense.

O século XIX é considerado o período do nascimento da imprensa no Brasil e no mundo. Em Nova Friburgo, surgem também muitos jornais neste período. Em 1887, surgiu O Domingo, de Celso Militão Pires Simões, tendo sido extinto para ser fundado, pelo mesmo proprietário, em 1889, a Gazeta de Friburgo. No ano seguinte paralisaria suas atividades e só voltaria a circular em 1895, já então sob a propriedade de José Saldanha. Esses periódicos, tinham uma duração muito curta, circunstância muito comum à época. O problema do “mal-de-sete-dias” era em decorrência de fatores como a falta de assinantes, a prevenção dos grupos políticos, a escassez de anunciantes e a dificuldade na distribuição. O período de 1898 a 1914 trouxe tecnologia e sofisticação aos jornais.
O Friburguense foi, na realidade, o primeiro periódico de que se tem registro em Nova Friburgo, tendo sido fundado em 1881 pelo major Candido Matheus Pardal Junior. Deixou de circular em um dado momento, mas não se sabe em que ano. Em 1890, foi adquirido por José Antonio de Souza Cardoso, saindo o primeiro número dessa nova fase em 20 de julho desse mesmo ano. Começou sendo impresso nas oficinas tipográficas do Correio Portuguez no Rio de Janeiro, na Rua São José, n. 40. Menos de um ano depois, no dia 15 de fevereiro de 1891, O Friburguense passou a ser impresso em oficina própria, constituída de um pequeno prelo manual e uma resumida coleção de tipos de jornal e “obras”. Com o tempo, o pequeno formato do jornal tornou-se insuficiente para conter todas as matérias. Foi então montada a máquina Marinoni, vinda expressamente de Paris com grande variedade de tipos, o que permitiu a duplicação do formato do jornal a partir de 7 de setembro de 1894. As oficinas tipográficas possuíam uma coleção de cerca de 5 mil quilos de tipos e “obras”, uma máquina Marinoni para impressão do jornal, uma Liberty, duas pequenas máquinas americanas e máquinas de aparar, numerar, brochar, picotar, podendo se afirmar que era uma das mais completas oficinas do Estado do Rio. Por alguns anos, O Friburguense foi bissemanal, sendo publicado às quintas-feiras e domingos.



Souza Cardoso dirigiu o jornal até a sua morte, em 24 de novembro de 1897, passando a propriedade a seu filho Augusto Elysio de Souza Cardoso, que sempre fora o seu braço direito. Herdeiro natural, Augusto Cardoso seguiu a mesma linha editorial do pai, dirigindo o jornal também até o seu falecimento, em 30 de junho de 1936. O Friburguense passaria então à direção de um antigo colaborador e genro de Souza Cardoso, Menezes Wanderley. Contudo, curiosamente, Menezes Wanderley não deu prosseguimento ao periódico em que tanto colaborara desde o primeiro número de sua nova fase, vindo o jornal a fechar seis meses depois do falecimento de Augusto Cardoso. A última edição do legendário O Friburguense, o decano da cidade, como era conhecido, foi publicada em 27 de dezembro de 1936, de número 2.725.


Surge em 13 de dezembro de 1891 a Cidade de Friburgo, de propriedade de Carlos Domingues Nogueira, do qual, infelizmente, não existe nenhum registro. Em maio de 1892, surge O Rebate, que seguia a linha panfletária. Trazia no topo da primeira página os seguintes dizeres: “Ódio aos tiranos” e “Defesa do povo”. Esse periódico estranhamente tinha como diretores Augusto Cardoso e Menezes Wanderley, filho e genro do proprietário de O Friburguense. O intrigante é que já no segundo número ambos publicaram uma declaração participando ao público que a partir de então passavam O Rebate a terceiros, que mais facilmente poderiam encaminhá-lo na “defesa dos oprimidos”. O Rebate foi o primeiro jornal a publicar o número de sua tiragem, que era de 800 exemplares. Menezes Wanderley possuía também A Escola, um periódico de circulação quinzenal pertencente ao Externato América, sendo instrutivo, educativo e recreativo, “art, taste and love”, havendo inclusive artigos em francês.


Surge ainda A Sentinella. Fundado em 1895 por Guilherme Samuel Bohrer, funcionou inicialmente em São Pedro, mas pouco tempo depois transferiu a redação e sua oficina para o centro da cidade. A Sentinella era um periódico declaradamente do Partido Republicano Autonomista, tendo o correligionário Bohrer como redator e gerente. A Sentinella era um jornal absolutamente panfletário, parcial, belicoso, muito mais politizado, até porque se declarava como órgão oficial do partido. Bohrer expressava claramente que seu jornal fora criado para servir de instrumento aos autonomistas, partido da época. Seus editoriais tratavam tanto da política municipal, quanto da estadual e da federal. Samuel Bohrer era uma espécie de Marat da Revolução Francesa.


Os jornais tinham a época vida muito efêmera, como dito antes, a exemplo do O Beija-Flor, de Augusto Pires, que surgiu em 1895, tendo sido fechado no ano seguinte para reaparecer em 12 de janeiro de 1898. O Beija-Flor, com formato de 20cmx10cm era tipicamente literário, publicando poesias, contos e comentários sobre eventos culturais na cidade. Em 1897 aparece O Pequeno Jornal, de propriedade e com a direção de Meirelles & Peixoto.


Lumiar, segundo distrito do município, possuía dois periódicos: o primeiro deles O Lumiarense, fundado por Eugênio Gustavo Brust em 17 de junho de 1894. Era um pequeno jornalzinho, com duas folhas e quatro páginas de frente e verso, em formato de 20cmx10cm, muito comum em Friburgo à época. Era publicado, semanalmente, aos domingos. O segundo, A Evolução, foi fundado em 7 de abril de 1895 por uma sociedade anônima. O surgimento do segundo periódico ocasionou o fechamento do primeiro, mas A Evolução teve uma trajetória curta, circulando somente até 13 de junho de 1896. Ambos eram impressos em Lumiar em oficinas próprias.


Em 18 de julho de 1901, despontam A Opinião, dirigido por Ernesto Rocha, e o Correio Popular, fundado em 10 de julho de 1902 por Menezes Wanderley. Esse último periódico foi adquirido por Galdino do Valle Filho em 1906 e substituído por A Paz, que se transformaria em um dos maiores e mais importantes jornais da cidade. Quando, no início do século XX, o médico Galdino do Valle Filho resolveu entrar na política, a primeira atitude que teve foi fundar o periódico A Paz.


Em 1904 surgiram O Álbum, semanário literário de propriedade de A. Balthazar, composto basicamente de contos e poesias e dedicado “ao bello sexo”. Neste mesmo ano surge O Nova Friburgo, fundado por Aristides Silva, natural de Itaboraí. Foi órgão oficial da Câmara Municipal e seu primeiro número foi publicado em 22 de maio de 1904, com tiragem de mil exemplares. Circulou até fins de 1907 e retoma novamente na propriedade de Juvenal Marques. Ulteriormente é vendido a Pedro Cúrio.


Foram fundados, em 1905, O Reflexo; Friburgo Commercial; O Boato, uma revista teatral informando os principais acontecimentos da cidade; O Lyrio; e O Holophote. Em 1906, surge ainda A Lanterna. Um grupo de tipógrafos de O Friburguense lançou O Lyrio, jornal literário e recreativo com seções patuscas e apimentadas.


Em Nova Friburgo, os jornais eram um instrumento dos partidos locais e suas páginas a tribuna dos políticos, sendo poucos os que proclamavam isenção. Em sua maioria, eram declaradamente partidários e seus diretores arautos dos respectivos partidos que representavam. O jornal A PAZ servia totalmente ao deputado Galdino do Vale Filho e seus correligionários, sendo um periódico eivado de parcialidade política em seus editoriais. Quando desejavam fugir da arena política, declaravam ser “órgão imparcial”, como foi o caso da Gazeta de Friburgo, de propriedade de José Saldanha.


A participação dos escritores, a exemplo de Machado de Assis, ocorria principalmente no jornalismo em expansão. Os jornais empregavam muitos deles, mas, salvo raríssimas exceções, essa participação não proporcionava condições de sobrevivência. Tendo em vista o analfabetismo da maior parte da população brasileira, eram baixas as tiragens das edições dos livros de escritores brasileiros, sendo os periódicos um grande instrumental para a difusão literária na época. Em geral, a reputação do escritor se fazia nos periódicos e, às vezes, pela republicação do mesmo material em forma de livro. Eram os leitores dos periódicos que garantiam o êxito de um escritor.

Redação de O Friburguense


Atualmente Friburgo possui apenas um jornal, A VOZ DA SERRA, e quando observamos o passado, nos damos conta de que a imprensa em Nova Friburgo também viveu a sua Belle Époque.






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