O inverno nesta época era muito rigoroso em Friburgo, chegando a temperaturas abaixo de zero graus. A população tirava do armário capas, casacos, mantéos, os clássicos cachenets, luvas e ainda assim “forravam por dentro” com Maria Brizard ou outra bebida qualquer que esquentasse. A Câmara Municipal se esmerava em tornar a praça iluminada por luz de acetileno com um holofote soberbo que dardejava raios possantes. Flores e folhagens ornavam um arraial de barraquinhas na Praça do Suspiro, todas iluminadas a giornos, com paredes de lonas brancas, tetos cinzentos de zinco, realçados pelo verde esmeraldino da vegetação. Por toda a extensão das barraquinhas, havia bandeiras e galhardetes de várias cores e nacionalidades. A festa ensejava a comilança e também o consumo de bebidas quentes. No festim de Santo Antonio, os romeiros tiravam a sorte e se esbaldavam com doces, café, refrescos, patos, perus, leitoas, carneiros, vitelas, carás e melado. Ardiam fogueiras assando-se canas e batatas doces. Armava-se um coreto e ao som de uma banda de música apregoava-se um leilão de prendas oferecidas pelos fiéis. Tocavam todas as sociedades musicais, Euterpe, Campesina, Estrela e Recreio dos Artistas. Tanto a colônia portuguesa como a italiana auxiliava na organização da festa deste santo, glória de Portugal que lhe foi o berço e honra da Itália que lhe guardava o túmulo.
Durante a festividade a população afluía à capelinha, levando promessas e donativos ao santo. Alguns levavam pencas de laranja ou frangos que trocavam por medalhinhas e registros com laços de fitas. Atroavam nos ares girândolas de foguetes e ascendiam balões de todas as cores e tamanhos com dísticos e figuras alegóricas. Durante a festividade, as moças solteiras acendiam velas de cera ao santo casamenteiro pedindo por um bom casamento. As meninas vestidas galantemente saíam como bando de andorinhas travessas, à cata de flores para enfeitarem o oratório. Já os meninos corriam pela multidão jogando bichas(sanguessugas) sobre os transeuntes e ainda busca-pés que atiravam para o ar em direção às moças que corriam esbaforidas, com medo de queimarem os vestidos novos.
No último dia da festa, às dez horas da noite, findo o leilão, encerrava-se com a queima de lindíssimos fogos de artifício ao som de repiques dos sinos da igrejinha de Santo Antonio. Numa época em que não havia luz elétrica, estes fogos de artifício tinham uma dimensão muito maior do que hoje e daí a vozearia alegre da gárrula meninada diante deste espetáculo ao fim da festa de Santo Antônio.
Fonte: Baseada em crônicas publicadas no jornal O Friburguense, no século XIX.
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