NOVA FRIBURGO: MAIS FRESQUINHA DO QUE UM ALFACE


Recebi um e.mail de um amigo carioca que me escreveu dizendo que na semana passada, lembrou-se muito do meu livro sobre a história de Friburgo. Ele se sentia como os cariocas do final do século XIX: ávidos por saírem no verão do Rio de Janeiro e pegarem o primeiro trem para Nova Friburgo. Estando em Friburgo, senti uma profunda comiseração por este meu infeliz amigo carioca. Os termômetros no Rio estão marcando 49° graus, mas a sensação térmica vai além de 50°graus. Para os que ainda não conhecem o período da história de Friburgo a que este meu amigo se referia, os cariocas, no final do século XIX, debandavam para Friburgo fugindo do calor e das epidemias de febre amarela que grassavam na “estação calmosa”, ou seja, no verão.
Vou me deter apenas na questão do clima, pois quanto à febre amarela o assunto se estende um pouco mais. No passado, ainda que tendo temperaturas mais amenas, pois não tínhamos o efeito estufa e o desmatamento que aumentou a temperatura do planeta, o vestuário contribuía para que a sensação térmica fosse maior. As mulheres e homens usavam uma indumentária pesada, as senhoras da elite cabelos muito longos, além de acessórios como luvas, a fatigarem aqueles que por força de uma posição social, não poderiam abrir mão destes elementos. Logo, em todos os verões, os cariocas subiam a serra, fugindo do tórrido calor do Rio de Janeiro. Destaco ainda, que o Rio não era a cidade “maravilhosa” de hoje. As ruas eram sujas e fétidas e um amontoado de cortiços pobres e miseráveis espraiava por todo o centro da cidade. Somente no início do século XX, a partir da gestão do então prefeito Pereira Passos, foi que o Rio de Janeiro ganhou largas avenidas, como a Rio Branco e disseminou a febre amarela e o cólera pela ação do sanitarista Oswaldo Cruz.

Na matéria de hoje, destaco uma crônica do jornalista Carlos de Laet, famoso cronista daquela época do jornal Correio da Manhã, que como seus conterrâneos, fugiu do intenso calor do Rio e veio a Friburgo, nos legando suas impressões, que nada difere das do meu amigo, pressuroso em deixar a “cidade maravilhosa”. Assim narrou Laet: “......aos que costumam ler-me, falo eu de um aprazível lugar onde se respira e vive melhor do que neste aparelho crematório à beira-mar aceso [refere-se ao Rio de Janeiro]. Nada mais agradável do que sentir, a medida que o solo rapidamente se eleva depois de Cachoeiras [de Macacu] a progressiva diminuição do calor que ora nos enerva e desseca. De manhã, lá em cima[refere-se a Friburgo], quando o excursionista em passeio matutino tem de enfiar o sobretudo para se resguardar da neblina que o borrifa, só com a mais profunda comiseração pode lembrar-se dos infelizes que à mesma hora tressuam esbaforidos no grande foco da civilização nacional [refere-se ao Rio de Janeiro].....Quando não tem razão, choram as mulheres e ganham o que querem. Friburgo é como as senhoras: em se vendo apertadas pelo calor, chove a farta, que tal é o seu modo de lacrimejar, e acaba por ficar mais fresquinha do que um alface (…)” Essa crônica acha-se transcrita, na íntegra, no Centro de Documentação Pró-Memória de Nova Friburgo.

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