Na semana passada fui convidada pela Associação de Engenheiros e Arquitetos para participar do programa “Hora Técnica”, exibido na tv Zoom. O assunto foi sobre as praças, contando com a presença do arquiteto Luiz Cláudio, responsável pelo projeto urbanístico das praças da cidade. A mencionada associação conta atualmente com um presidente, José Augusto Spinelli, que para nossa sorte gosta de história e por isso o assunto “praça” foi abordado numa linha de tempo passado e presente. Nossos antepassados nos legaram muitas praças: A Praça Getúlio Vargas, Praça Paissandu, Praça do Suspiro, Praça da Alegria(atual pátio da Prefeitura) que ficava na entrada da vila, e por último a Praça Cantagalo (depois Primeiro de Março), localizada na vilagem. De todas as praças a única extinta foi a Praça da Alegria, desapropriada a pedido de Bernardo Clemente Pinto para se transformar em estação de trem. Mas por que Nova Friburgo possuía tantas praças em um exíguo perímetro urbano?
No século XIX, grassam em todo país epidemias de febre amarela, cólera e varíola. Atribuía-se essas doenças aos miasmas, emanações pútridas que se desprendiam de animais e vegetais em decomposição, corrompendo o ar atmosférico e desencadeando diversas doenças. Os médicos higienistas acreditavam que as doenças vinham do ar, pois a descoberta dos micróbios só aconteceria em 1862, mas levaria algum tempo para ser difundida e aceita. Preconizava-se o plantio de árvores e boulevards nas vilas e cidades para higienizar o ar “corrompido” pelos miasmas. Logo, as praças públicas, os passeios como eram denominados, tinham muito mais uma função de atender a uma política pública higienista do que se tornar um espaço de sociabilidade. Basta uma leitura do Código de Posturas de 1848 de Nova Friburgo, para perceber que a Câmara estava muito mais preocupada com a salubridade da vila do que propriamente com o lazer de seus habitantes.
A teoria microbiana derrubou a teoria dos miasmas, ou seja, descobriu-se que as doenças provinham dos micróbios e não do ar, e as praças públicas no século XX prestam-se tão somente a espaços de sociabilidade. Atualmente, devido ao efeito estufa, nos parece que as praças voltam a sua função originária de higienizar a cidade, minimizando o impacto de poluição do ar e melhorando a qualidade de vida dos que vivem nas cidades. Mas há muito que fazer. Além de preservar as praças que nossos antepassados nos legaram no centro da cidade, não devemos nos esquecer das praças dos bairros periféricos como Olaria, Cônego e Conselheiro Paulino e criar novas, como no bairro de Mury. Finalmente, Gilberto Freyre nos informa que os homens brasileiros, à maneira dos gregos, gostavam das camaradagens fáceis e ligeiras da rua e da praça pública. Era na rua e na praça pública que discutiam política e realizavam negócios ou transações. Em Nova Friburgo, depois do trem, as praças estão sempre na memória das pessoas, o que demonstra a sua importância como espaço de sociabilidade.
Acervo: Fundação D. João VI
3 Response to "PRAÇAS PÚBLICAS: HIGIENE E SOCIABILIDADE"
Muito bom o texto! Parabéns! Concordo plenamente quando diz que devemos preservar as praças já existentes e criar novas. Particularmente, proponho que haja uma ampliação da Praça Getúlio Vargas, retirando o trânsito de veículos na área do corredor cultura entre as ruas Dante Laginestra e Ernesto Brasílio, o que permitiria ao turista e também ao morador da cidade frequentar melhor os prédios históricos ali situados. E, no dia em que o Poder Público finalmente implantar um sistema de bilhetagem eletrônica nos ônibus e pudermos dar adeus à rodoviária urbana, acredito que toda a praça poderá ser ampliada, proporcionando mais qualidade de vida para os cidadãos friburguenses.
é muito bom mesmo cara preservar o meio ambiente adorei show de bola beijos
Alguém sabe me dizer quantas praças no total existem em nova Friburgo? Ou alguma maneira de descobrir isso? É para um trabalho da faculdade. Obrigado.
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