É NATAL...EM NOVA FRIBURGO...NO FINAL DO SÉCULO XIX


Como era o Natal em Nova Friburgo no final do século XIX? Foi graças ao saudosismo de Henrique Zamith, que viveu a sua infância e juventude na Friburgo fin-de-siècle, que hoje podemos conhecer o cotidiano, no Natal, de uma típica família friburguense oitocentista daquela época. Sua crônica evoca um passado onde havia ainda os resquícios da escravidão, há pouco extinta, onde a cozinha era comandada pelas outrora negras cativas.

Em Friburgo, hoje temos os bailes, a exemplo do rock’ noel, onde muitos adolescentes terminam a noite depois da ceia com a família. Na Friburgo do século XIX, alguns músicos percorriam as ruas tocando instrumentos, pois boa parte da população ia para a praça flanar na noite de Natal. Segue um trecho de uma deliciosa crônica que nos remete à ceia de Natal, ao movimento da casa, do sarrabulho, sangue coagulado do porco para fazer o chouriço, onde as crianças tagarelavam talvez excitadas pelo cheiro do sangue dos animais abatidos, que nos remete a hecatombe dos rituais gregos. Hoje, felizmente, os adquirimos congelados, o que nos poupa desta cena lamentável em relação aos animais. Mas não devemos julgar os costumes de nossos antepassados, pois os tempos eram outros. Penetremos então nesta deliciosa narrativa, que abre uma janela para o passado.


“A chegada do Natal, momento íntimo e familiar era dia de grande sarrabulhada. As casas ficavam todas em polvorosa: da sala de visitas à cozinha, o quintal, a dispensa, a copa, era uma azáfama de endoidecer. As crias da casa, velhas negras remanescentes da extinta escravidão resmungavam, arrumavam, iam e vinham, taramelavam, lavavam, vasculhavam, areavam e poliam. Na despensa, era um requebrar de ovos, bater de bolos, o lambuzar de forminhas, o fazer de doces, pudins, biscoitos e broas. Na cozinha, o preparo de perus, leitoas, frangos recheados e tortas, mal dava tempo de descanso às velhas cozinheiras. As próprias costureiras não tinham mão a medir: damas, senhoritas e meninas todas tinham seus vestidos encomendados.
Enfim, chegava a véspera do Natal! Era um dia de prazer, de vivas emoções, de júbilo e de alegria! Os jantares desse dia eram notáveis! Vinham as cantigas e depois o sarau respeitoso até às dez horas com as valsas lentas. Na ceia, castanhas, rabanadas, leitoas, frangos, perus, doces, amêndoas e vinho verde. A tradicional missa do Galo, onde de tudo se cogitava menos ouvir a missa e depois os boas-noites, boas-festas e muitas felicidades. A seguir, todos se recolhiam contentes e felizes, e a meninada a sonhar com o papai Noel a lhe encher de brinquedos as botinas e os sapatos.....”
Fonte: Baseado na Crônica de Henrique Zamith que nasceu no final do século XIX.

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