A história do Teatro D. Eugênia se inicia, no último quartel do século XIX. Sua origem partiu de uma deliberação dos membros da Sociedade Musical Campesina dispondo que, além da música, deveria essa sociedade também desenvolver e estimular as artes dramáticas, cuidando de edificar um teatro para tal fim. A Campesina abriu subscrição e realizou uma série de espetáculos e leilões na cidade e os friburguenses solidarizaram-se com a campanha promovida para a construção do teatro. O primeiro passo para o tão sonhado projeto foi a aquisição de um terreno que pertencia a Pedro Eduardo Salusse localizado na Rua Gal. Câmara, atual Augusto Spinelli, exatamente onde hoje se localiza o edifício Gustavo Lira.
No dia 30 de maio de 1886, foi lançada a pedra fundamental, concorrendo boa parte da população e sendo nessa data escolhido um nome para o teatro: Theatro Victor Hugo, um autor muito lido em Nova Friburgo. Dando-se início às obras foi o teatro edificado, tendo sido nele empregados os materiais doados e os valores recebidos pelos associados em leilões e espetáculos. Acontecimentos sucessivos, porém, interrompeu a execução do teatro que se encontrava até “certo ponto de adiantamento”, segundo um jornal da época. Primeiro, foi o falecimento, na Itália, de seu presidente, Fioravanti André Martinoya, seguido da elevação excessiva dos preços dos materiais de construção e do salário dos operários. Os débitos contraídos impediram a continuidade da obra, que acabou sendo suspensa. Não podendo dar continuidade à edificação do teatro, em sessão extraordinária os associados deliberaram colocar à venda o prédio na situação em que se encontrava. No entanto, por exigência da diretoria da Campesina, ficaria consignado na escritura uma cláusula de não poder ser a propriedade voltada a outro fim, senão àquele a que fora destinado, ou seja, servir às artes dramáticas. Os fazendeiros da região já diversificavam seus investimentos e foi o que aconteceu com Manoel Amancio de Souza Jordão, um dos mais importantes usineiros do município de Sumidouro, que resolveu adquirir o teatro em fase de execução. A consolidação de Friburgo como cidade de veraneio ao final do século XIX e a melhoria do sistema de transporte com a Capital Federal facilitado pelo trem, despertou o interesse desse fazendeiro que adquiriu o teatro.
Sob o comando de Souza Jordão, tomou a obra um grande incremento que levaria dois anos até que o teatro pudesse finalmente ser inaugurado. Contudo, o nome Victor Hugo foi substituído por Dona Eugênia, em homenagem à esposa do proprietário, Eugênia dos Santos Jordão. Em 7 de junho de 1894, por uma fatalidade, Souza Jordão veio a falecer vitimado por febre amarela, na Capital Federal. Como nesse ano as obras do teatro se encontravam praticamente concluídas foi inaugurado no início de 1895 o Theatro D. Eugênia, com a ópera de Verdi, Um Baile de Máscaras, pela companhia italiana Verdini & Rotoli. O prédio tinha um estilo eclético e era dividido em dois pavimentos. No primeiro andar ficava a platéia. Já no segundo ficavam as galerias, com alguns camarotes fechados. Havia ainda as “torrinhas”, onde ficavam os populares e os rapazes que gostavam de bagunça. Não era luxuoso, era simples, mas “muito bonitinho”, segundo entrevistas com quem o conheceu. Internamente possuía acabamento de madeira toda trabalhada e uma acústica maravilhosa. O teatro possuía lotação para 600 pessoas, com 212 cadeiras de primeira classe e 17 camarotes, sendo um de honra.
O Teatro D. Eugênia foi palco de famosas óperas italianas, muito em moda desde a época imperial e igualmente de peças do teatro português, cujos espetáculos faziam parte do calendário cultural da cidade. Além da primeira representação da ópera de Verdi, Um Baile de Máscaras, a Companhia Lírica Italiana Verdini & Rotoli promoveu as seguintes óperas na cidade: Lucrecia Borgia e A Favorita, de Donizetti; Carmen, de Bizet; Aida, La Traviata e O Trovador, de Verdi; e ainda Fausto, de Goethe. Além de Verdini & Rotoli, a companhia dramática do teatro português representou dramas e comédias, com as seguintes peças, entre muitas outras: A Morgadinha de Val-Flor, Gaspar Cacete, O Fidalgo Ladrão ou Os Pupilos do Escravo, Fidalgos e Operários ou A Tomada da Bastilha, Mosquitos por Cordas, Os Estranguladores de Paris, Os Dois Proscritos ou A Restauração de Portugal em 1640, Veneno dos Bórgias e O Homem da Máscara Negra. Peças mais picantes como A Estátua de Carne, que exibia as “horisontaes”(prostitutas) e “Can-Can”, dançadas por mascarados. A cidade recebeu ainda companhias de zarzuelas, obra dramática e musical de origem espanhola, uma espécie de ópera-cômica na qual alternadamente se declama e se canta. A Companhia Dramática Empresa Mayor & Cia levou para Nova Friburgo zarzuelas como A Galinha Cega, Lucero del Alba, Torear por lo Fino. Demolido em julho de 1975 para dar lugar ao atual edifício Gustavo Lira, o Teatro D. Eugênia foi depositário de exatos oitenta anos de entretenimentos culturais, do teatro ao cinema, tendo sido inclusive sede provisória da Sociedade Musical Euterpe e no século XX, cine-teatro. Entre muitos descasos contra o patrimônio histórico impetrados pelos outrora gestores públicos do município, a demolição do Teatro D. Eugênia é um dos que mais pesa na consciência desses administradores.
No Response to "TEATRO D. EUGÊNIA: O ÓPERA DE NOVA FRIBURGO"
Postar um comentário
AVISO:
É proibido usar palavras de baixo calão neste espaço.
Seja cordial com os outros comentaristas.
Ao fazer críticas, favor fundamentá-las.
Caso esses tópicos não sejam seguidos, os comentários serão deletados sem consulta prévia ao autor.