A História dos Cinemas em Nova Friburgo

Cinema Eldorado: Acima uma encenação teatral e abaixo a sua fachada principal na Praça Dermeval Barbosa Moreira



Acima: Interior do Cinema Leal


O século 19 foi um período profícuo para os avanços tecnológicos. Cada vez mais surgiam invenções que impactavam a sociedade oitocentista: Surgiram a fotografia (1839), o fonógrafo (1877) e o aparelho cinematográfico (1895). Nova Friburgo conheceu no fin de siècle 19, o animatógrafo: o cinema de hoje. Segundo a notícia intitulada “O Animatographo”, publicada em A Sentinella de 10 de abril de 1898, o aparelho de projeção consistia em uma bem combinada união da fotografia instantânea, dos efeitos de luz e da passagem dos quadros, que se sucedia com a mesma rapidez dos movimentos naturais, de modo a reproduzir cenas animadas com uma velocidade surpreendente. Inicialmente o aparelho de projeção foi instalado no Cassino Friburguense, pela primeira vez visto na cidade, constituindo “uma novidade do mais vivo atrativo e uma das maravilhas destes tempos de progresso”, dizia um jornal da época. Posteriormente, passou a haver sessões todas as noites, das 18 às 21 horas, no Animatógrafo Joly, localizado na Rua Gal. Argolo, atual Alberto Braune. Entre os filmes vistos pelos friburguenses no século 19 destacavam-se: A Tentação de Santo Antônio, Os Negros de Dackar ao Redor do Vapor, A Briga do Baleeiro com o Passageiro, A Entrada do Czar da Rússia em Paris.

Já no século 20, o português Francisco Leal, da empresa Leal & Cia, inaugura um cinema no final da Praça XV de Novembro, atual Getúlio Vargas, onde hoje se encontra impropriamente a rodoviária urbana. Essa sala de projeção é inaugurada em 1912 com o nome de Cinema Leal. Como quase todo lusitano influenciado pelos mouros, o Cinema Leal era um prédio de madeira em estilo mourisco.

Estilo mourisco do Cinema Leal, no final da Praça Getúlio Vargas.
Esse cinema foi posteriormente transferido para o Teatro D. Eugênia, passando a denominar-se Cine Teatro Leal. Muitos cinemas surgiram nessa mesma década: Cinema São João, Cinema Éden, Ideal Cinema, Cine Nacional, Cinema Odeon, sendo que esse último, de propriedade de José El-Jaick e outro sócio, que funcionava na esquina da Rua Farinha Filho, sofreu um incêndio em março de 1915, destruindo todas as suas instalações. No local inaugurou-se o Cine São José, em 1917.

Cinema Glória


Já na década de trinta surgem o Cinema Popular(1929) e o Cinema Império(1931). O Teatro Dona Eugênia, a partir de 1930, passou a chamar-se Cine-Teatro Leal. O D. Eugênia passa a ter essa denominação de “cine-teatro” porque, no decorrer da década de 1920, o “teatro de revista” começou a ser adaptado para divertir as platéias dos cinemas nos intervalos da projeção dos filmes. É sempre bom esclarecer que outrora a projeção era interrompida para se trocar o “rolo” do filme. Foi a era dos cines-teatro e a simbiose entre o cinema e o teatro aumentava ainda mais a platéia. O Cine-Teatro Leal tinha sessões todos os dias, sempre às 19:00 horas. Nas quartas-feiras tinha a sessão chic, que ganhou essa denominação porque se cobrava somente meia entrada do “belo sexo” e conseqüentemente iam muitas mulheres. No domingo tinha sessões às 13:00, farwest, uma espécie de matinée, para o público infantil. A seguir sessões às 15:30 e às 19:00 horas.


Cinema Odeon


No final da década de 1920, o Cinema Glória, localizado na Praça Dermeval Barbosa Moreira, sofreu igualmente um incêndio. Entretanto, em 24 de julho de 1940, surge no local do outrora Cinema Glória, o Cine Eldorado, e a primeira película exibida foi a “Opereta Balalaika”. O Cine Eldorado se transforma no meeting da alta sociedade friburguense e a sessão chic passa a ser a das 20:00 horas devido a freqüência da high society. De acordo com Leyla Lopes de Mello na crônica “Uma data, muitas recordações”, as mulheres trajavam elegantes tailleurs, vestidos de veludo realçados por colares de pérola e casacos de pele devido ao rígido inverno de Nova Friburgo. Já os homens trajavam impecáveis ternos de casimira inglesa, colete, gravata e chapéus das marcas Mangueira, Prado e Tamenzoni. A propósito, era proibida a entrada de homens sem paletó nos cinemas. Enquanto aguardavam a exibição do filme ouvia-se Glen Miller e outros clássicos. Já as sessões de 15:30, das tardes de domingo, era o rendez vous da juventude friburguense. Quem não chegasse com uma hora de antecedência, não encontrava mais lugar. Dentro do cinema os rapazes faziam footing, ou seja, caminhavam pelas aléias em torno das fileiras de poltronas, provocando frisson e o pulsar descompassado no coração das mocinhas. Muito mais importante do que a fita que se exibia, era a oportunidade de um namoro furtivo quando se apagavam as luzes. De acordo com Leyla “quantos encontros e desencontros, quantos inícios e fins de romances, quantas alegrias e quantas mágoas, ao ver a pessoa amada ao lado da outra”.


Na década de 50 surge o Cine Marabá(1950) na Rua Leuenroth, edificado onde era o afamado Hotel Leuenroth, que hospedava o Imperador D. Pedro II. Já nessa década os cinemas se expandem para os bairros da cidade: surgem em Olaria o Cine São Clemente(1950), no Cônego o Cine Sant’Anna(1955), em Amparo o Cine Theatro Almeida. Finalmente, na década de sessenta, surgem o Cine São José(1963) e o Cine São Luiz(1967), sendo o Cine São José o último cinema do município, fechando suas portas no ano de 1994.



Nova Friburgo ficou sem a sétima arte durante muitos anos até que surgisse um shopping na cidade com salas de cinema. Nesse ínterim, o Country Clube chegou a oferecer exibições de filmes em seu teatro, mas não chegou a atingir o grande público, até porque as pessoas achavam que somente os sócios poderiam freqüentar esse espaço. Mas a crise dos cinemas foi estrutural. No Brasil inteiro fecharam-se os tradicionais cinemas e muitos se transformaram em igrejas evangélicas. Esse fato indignou a população de tal maneira, que surgiu uma lei proibindo que esses estabelecimentos se prestassem a tal finalidade. Mas o cinema nunca deixou de ser um importante espaço de sociabilidade, mudando-se apenas o seu formato. Atualmente são pequenas salas de cinema e os recursos áudios-visuais, com alta tecnologia, faz com que continuem a ser um local de atração para as novas e antigas gerações. Concluindo, pode-se atribuir o auge do cinema em Nova Friburgo, na década de 40 do século 20, com o Cine Eldorado, que funcionou durante 36 anos, fechando suas portas em 31 de maio de 1976. Foi uma época em que assistir a um filme no cinema era, simplesmente, algo secundário. O cinema era um local para ver e ser visto.


Teatro D. Eugênia. Hoje no local, ed. Gustavo Lira, na Rua Augusto Spinellli.

7 Response to "A História dos Cinemas em Nova Friburgo"

Ana Leal disse...

Sou neta do Francisco Leal e adorei ler esse artigo.
Como gostaria de saber mais histórias sobre o meu avô.
Ana Leal.

Anônimo disse...

Muito lindo ver tudo isso sou cunhada do Ruben Leal Pinto que era dono do cinema Eldora muito orgulho tudo isso pena que tudo isso se foi:

JLVieira disse...

Um ótimo resumo da história dos cinemas de Friburgo. Em Amparo ainda existe (ou existia? a última vez em que por lá passei foi em 2009) o prédio de um Cine Theatro que poderia perfeitamente ser restaurado pela Prefeitura e servir de Centro Cultural, mantendo o prédio.

Anônimo disse...

Sou sobrinha e afilhada do Ruben Leal Pinto, o Rubinho, ele ia amar ver tudo isso. COmo o Eldorado foi um marco em Friburgo! E maior orgulho do meu dindo ter feito parte disto!

Jony Heringer disse...

Alguém sabe informar Quantas poltronas tinham o Cinema Eldorado? e quantas eram no Marabá?

Unknown disse...

Faltou o cinema do conego, conheci o prédio quando criança mas o cinema já não existia mais

Anônimo disse...

Eu tenho muita vontade de saber de um amigo que é da sua família ,ele chama-se Humberto e estudava na época 1961 na Fundação Getúlio Vargas .Vc consegui pesquisar para mim?

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