A BUSCA POR MERCENÁRIOS: A Imigração Alemã – Parte 3

Hussardo Russo

A imigração dos alemães ao Brasil está diretamente relacionada com a organização militar do país, ocorrida no Primeiro Reinado. O fim da era napoleônica trouxe paz à Europa e a desmobilização dos exércitos devolvera à vida civil milhares de soldados. Era uma geração nascida e criada na guerra e para o qual não havia emprego e nem alimento suficiente devido ao excesso de população dos países e Estados europeus. Como o Exército brasileiro era deficiente, optou-se pela contratação de mercenários, ou seja, soldados experientes em combate. Porém, havia um problema: a legislação dos países proibia a emigração de ex-combatentes por uma questão de segurança nacional. A solução encontrada pelas autoridades brasileiras para driblar essa proibição foi a de misturar alguns poucos colonos ao recrutar mercenários, já que os primeiros eram autorizados a emigrar. Para cada grupo de mercenários contratados teriam que vir também algumas famílias de colonos.

O Brasil já recrutara em 1820 degredados italianos(Napolitanos) para as Forças Armadas, mas foi uma experiência que não deu certo e o governo tomou a decisão de conservá-los nas prisões do Rio de Janeiro. Para a nascente Marinha Imperial brasileira foram cooptados marinheiros ingleses. Estima-se que 30 oficiais e 500 marinheiros ingleses foram aliciados nos portos brasileiros, o que irritou de sobremaneira o governo inglês. O herói inglês Lorde Cochrane entrou para a Marinha brasileira, como Almirante, e fez a diferença na Guerra da Independência. As autoridades brasileiras tentaram inicialmente contratar mercenários franceses e suíços, esses últimos considerados os melhores soldados por sua disciplina e moralidade, mas por falta de recursos financeiros não pode fazê-lo. Cerca de duzentos colonos suíços de Nova Friburgo abandonaram a agricultura em troca de um soldo fixo no Exército Imperial, além da promessa de rápidas promoções e a possibilidade de se instalarem onde bem entendessem após 3 anos de serviço militar. A esses suíços juntou-se um pequeno número de estrangeiros de várias nacionalidades que vagavam pelo Rio de Janeiro para servir nas Forças Armadas. Como o sogro de D. Pedro I era Imperador da Áustria, tentou via diplomática obter mercenários austríacos, mas as autoridades desse país impediram essa empreitada. Ainda se tentou cossacos russos, mas não lograram êxito. Finalmente, optou-se por mercenários alemães. Logo, a iniciativa de contratação de mercenários, no Primeiro Reinado, voltou-se então exclusivamente para os Estados Alemães.

Assim como os suíços tiveram Gachet para intermediar a sua vinda ao Brasil, os alemães possuíram como agente, com nome aportuguesado, Jorge Antonio Aloísio Von Schäffer. Em comparação a Gachet, pode-se afirmar que Schäffer tinha muito mais poderes e influência junto às autoridades brasileiras, gozando inclusive de extrema confiança da Imperatriz Leopoldina. Schäffer tornou-se o pai da imigração alemã no Brasil e foi escolhido por José Bonifácio para a missão de cooptar mercenários nos Estados Alemães. Schäffer era médico e descrito como um alemão feio, desajeitado, vaidoso e que bebia muito. Porém era hábil, culto e insinuante. O problema de Schäffer era as suas notórias bebedeiras e bacanais que promovia que não condizia com o comportamento de um representante oficial de um país. Não foi por acaso que angariou a rejeição da comunidade internacional e perdeu a representação política e diplomática do Brasil ulteriormente. Schäffer parte para a Europa para cumprir a sua missão de obter o reconhecimento da independência do Brasil e arregimentar soldados. Os alemães aliciados por ele compreendiam mercenários e colonos, sendo que esses últimos foram cooptados apenas para disfarçar a contratação de soldados e fugir da fiscalização dos Estados Alemães, que proibia a contratação de ex-combatentes. Os soldados viajariam às custas do governo brasileiro, serviriam durante seis anos como militares pagos e depois receberiam terras para cultivar.

No entanto, Schäffer diferentemente do que lhe fora determinado, arrolou nas duas primeiras expedições, o Argus e o Caroline, muito mais colonos do que mercenários, e isso com uma presteza que surpreendeu as autoridades brasileiras, que não estavam preparadas ainda para recebê-los. E foi por isso, que Nova Friburgo entrou nessa história, como veremos adiante. Foi preparado às pressas, para alojar os colonos alemães, um antigo conjunto de prédios velhos destinados a industrialização de óleo de baleia na Armação de São Domingos da Vila Real da Praia Grande(Niterói). Para recebê-los e encaminhá-los, criou-se a Inspetoria de Colonização Estrangeira nomeando para sua direção Monsenhor Miranda, que já tinha experiência na imigração dos colonos suíços em Nova Friburgo. Por que Schäffer conseguiu enviar tão rápido os imigrantes alemães para o Brasil logo que chegou à Europa? É o que veremos na matéria "Soldados ou Colonos"?
Soldados russos
Guarda Suíça, notória por sua disciplina, daí tornar-se a Guarda do Vaticano

1 Response to "A BUSCA POR MERCENÁRIOS: A Imigração Alemã – Parte 3"

Anônimo disse...

É uma pena que não descrevam a farda dos hussardos, eu preciso saber como se chama o chapeu que eles tem na cabeça, em russo é kiver.

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