Abaixo: Quadros de Fernando Botero.
Em novembro de 1857, um circo instalado no Campo de Sant’Ana, no Rio de Janeiro, prometeu mostrar ao público uma corrida de touros. Apresentaram em vez disso, dois bois magros, que por mais cutiladas lhes dessem, não saíam do lugar. O público irado e sentindo-se enganado colocou fogo no circo. As corridas de touros e as touradas eram espetáculos que atraíam grande público até o primeiro quartel do século 20. O que para nós atualmente expressa uma verdadeira barbárie contra os animais, os Circos de Touros ou Circo Tauromático era uma verdadeira coqueluche em Nova Friburgo. Os jornais da cidade chamavam o público de “afficionados”, tal era o interesse por esse tipo de lazer. Os espetáculos ocorriam aos domingos e os ingressos eram tão disputados que criança não pagava meia entrada. Todas as classes sociais apreciavam esse tipo de espetáculo. Armado na outrora Av. Friburgo, atual Galdino do Vale Filho, em terreno de um particular, o Circo Tauromático tinha normalmente um raio de 105 metros quadrados e “acomodava mil pessoas folgadamente”, diziam os jornais. Era espaçoso e bem construído oferecendo segurança aos espectadores. O circo era aberto, sem cobertura, havendo camarotes e arquibancadas. Os lugares com sombra eram bem disputados nos dias de sol.
E começava o espetáculo no enorme redondel que regurgitava de espectadores. Após a Banda Euterpe executar algumas marchas e dobrados, troava o clarim. Na arena, apareciam garbosos e lusidamente trajados os bandarrilheiros que faziam inicialmente os cumprimentos às autoridades locais. Sucessivamente entravam os palhaços do circo que saudavam o público. Ao amplexo de agradecimento, demorado e terno, reboavam no circo entusiásticos e frenéticos aplausos, calorosas ovações e a banda imediatamente rompia num forte dobrado. Novamente o clarim ou corneta davam um sinal. Abre-se a porta do curro e entra o touro na arena que para catarse da platéia investe logo contra os bandarrilheiros. Avaliava-se a destreza dos bandarrilheiros pela agilidade com se livrava do ataque do touro e com o arriscado salto de vara. O touro surgia a princípio ágil, avançando, destemido, mas depois do par de bandarrilhas que lhe pespegava o bandarrilheiro, recuava, “recusando-se às sortes”, não obstante os esforços empregados pelos bandarrilheiros. As novilhas que se apresentavam galhardas de bravura eram de imediato “enfeitadas” com soberbos pares de bandarilhas para delírio da platéia. Alguns touros só se prestavam “às primeiras sortes” e depois ficavam recostados às cercas, a procura do curro, lugar onde ninguém mais os conseguia tirar, para decepção da platéia. Alguns artistas “pegavam o touro a unha”, dizia o Jornal. Complementando o tormento do animal metiam-lhe um forcado depois de terem passado pelos “capotes”. Ruidosa salva de palmas reboavam pelo recinto diante da destreza do toureiro e agonia do animal. Quanto mais bravo o touro ou novilho maior oportunidade aos bandarilheiros de mostrarem a sua agilidade e arrojo de verdadeiros senhores da “arte tauromachica”.
Frenéticas e prolongadas salvas de palmas reboavam no circo, atirando os aficionados na arena chapéus, paletots e confettis bicolores. Depois de um intervalo, representava-se uma pantomima “tauro-carnavalesca”. Duas cocotes, numa espécie de paródia dos bandarilheiros, mostravam também sua intrepidez diante do novilho. Havia um cômico que só ficava correndo dos touros e o público não regateava aplausos aos artistas. Na “função” havia também representações de pantomima e no carnaval poderiam tomar parte todos os espectadores fantasiados. A Euterpe, “de quando em quando”, executava uma polca buliçosa. Ao cair da noite, era dado fim ao espetáculo ao som de vibrante dobrado e de aclamações frenéticas aos artistas.
As mulheres também se apresentavam no circo de touros. A portuguesa Emília Marques, segundo o jornal, “tem tomado parte em vários combates, sempre com geral aplausos dos grandes aficionados, que muito apreciam a intrepidez que revela(...)mostrando-se sempre pronta para a brega”. Emília Marques abandonou o palco do teatro para dedicar-se a arte tauromachica, considerados como artistas tauromachicos. Geralmente se apresentavam cinco deles nos espetáculos e usavam uniformes a caráter com capas de cetim e veludo, bordados a fios de ouro e prata. Os circos de touros eram de propriedade de portugueses, uma tradição até hoje em Portugal e na Espanha. Atualmente o Campo Pequeno, em Portugal, promove temporada de touradas que se entende pela primavera e verão.
Campo Pequeno. Portugal
Fernando Botero representou em seus quadros o cotidiano das touradas como ninguém(quadros acima). Esse tipo de espetáculo tornou-se tão freqüente em Nova Friburgo e um divertimento tão apreciado no início do século 20, que se inaugurou uma praça de touros, armada na rua Gal. Argolo, atual Alberto Braune. O local ficou conhecido como o “Coliseu Friburguense”.
Gostaria de deixar claro que considero a prática da tourada uma barbárie e que deveria ser definitivamente proibida em todos os países.
1 Response to "O COLISEU FRIBURGUENSE: PEGANDO TOURO A UNHA"
Fodase
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