O INTERESSANTE EPISÓDIO DOS PRISIONEIROS ALEMÃES EM NOVA FRIBURGO


Durante a Primeira Guerra Mundial(1914-1918) ocorreu um interessante episódio em Nova Friburgo envolvendo prisioneiros alemães. Esse episódio coincide com o início da industrialização do município e esses dois acontecimentos irão se imbricar para dar novos matizes ao momento histórico pelo qual passava Nova Friburgo. Na Primeira Guerra Mundial, vários navios alemães da Marinha Mercante foram detidos nos portos brasileiros. Ao todo foram apreendidos pelo governo brasileiro 45 navios mercantes que se encontravam ancorados em portos nacionais. O objetivo era aprisionar e “internar” os seus tripulantes bem distante do litoral. Uma das cidades a que destinou esses marinheiros foi Nova Friburgo, notadamente reconhecida como um local onde os imigrantes não padeciam do problema de aclimatação e se adaptavam sobremaneira. Nova Friburgo recebera o primeiro grupo de colonos alemães em 1824(343), sendo que em 1892, igualmente, 703 alemães imigraram para o município.


Para abrigar, em Nova Friburgo, uma parte dos alemães detidos nos portos brasileiros, escolheu-se o Sanatório Naval. Inaugurado poucos anos antes, em 1910, o Sanatório Naval foi instalado para tratamento e convalescença de marujos beribéricos e tuberculosos. Era um local perfeito onde compartilhariam o mesmo espaço com “homens do mar”, não obstante os brasileiros serem militares e os alemães civis. Faltam pesquisas para se saber o número exato de prisioneiros que se instalaram no Sanatório Naval, mas Fischer em “Uma História em Quatro Tempos” nos informa que foram, aproximadamente, 227 alemães da Marinha Mercante. Já José Pereira da Costa Filho, o Costinha, que trabalhou na construção dos barracões até 1916, informa-nos que eram 1.500. Os oficiais ficavam nos barracões e os soldados acampados em barracas. Os oficiais ficaram acomodados em casas de alvenaria e o restante em barracas armadas no terreno do Sanatório. Denominou-se o local de Campo de Internação. De acordo com a memória de alguns friburguenses, o Campo de Internação era uma verdadeira atração na cidade, e todos subiam para o Sanatório Naval curiosos em observar os prisioneiros alemães. Como houvesse muitos alemães e descendentes dos primeiros colonos e imigrantes em Nova Friburgo, levavam a sua solidariedade na qualidade de irmãos germanos. Maximilian Falck, proprietário da recém instalada Fábrica Ypu, dava assistência aos alemães internados como prisioneiros. Mas quanto ao restante da população friburguense, era pura curiosidade, assim como apreciavam ir à estação de trem ver quem chegava e partia da cidade. Mas o que a industrialização em Nova Friburgo tem a ver com esses prisioneiros, como dito acima? Aos tripulantes alemães foi dada permissão pelo governo brasileiro para trabalharem onde estivessem “internados”. Para tanto, o empregador deveria manter periódico contato com a Comissão Militar comunicando a permanência do “internado” a seu serviço. Desde 1911, Peter Julius Ferdinand Arp(1858-1945), um grande empresário alemão, estabelecia-se em Nova Friburgo no ramo da indústria têxtil, atraindo inclusive outros empresários alemães. Como a mão de obra especializada talvez fosse um problema para lidar com o maquinário importado, prisioneiros alemães foram cooptados para as recém instaladas indústrias. Muitos deles, principalmente entre os oficiais, tinham capacitação técnica que se amoldava perfeitamente à demanda das novas indústrias em Nova Friburgo. Até então esses profissionais vinham de outros estados do Brasil. Nesse sentido, utilizaremos como exemplo Richard Hugo Otto Ihns(1889-1960). Originário da Prússia, oficial da Marinha Mercante alemã, encontrava-se em Pernambuco quando em 1914, a Primeira Guerra Mundial eclodiu. Seu navio ficaria detido durante três anos até que, em 1917, as autoridades brasileiras resolveram enviar o seu navio, o “Cap. Finister”, para Nova Friburgo.


Foi Maximilian Falck, um dos empresários alemães quem o colocou na empresa de Julius Arp, em razão de suas habilidades técnicas. Em 1919, Ihns já era gerente da Fábrica de Rendas e estabelecido definitivamente no Brasil. Foi devido à morte de um filho seu que transformou o antigo cemitério alemão em um aprazível parque, fundou um clube social somente para os alemães(atual Sociedade Esportiva Friburguense) e reorganizou a Sociedade Evangélica Luterana em Nova Friburgo. A importância dos empresários alemães na economia local se refletiu no novo status dado aos alemães. Richard Ihns tornou-se membro do Conselho Consultivo de Nova Friburgo e ocupou vários cargos na Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo. Tem-se a impressão de que Richard Ihns resolveu dar à comunidade alemã, em Nova Friburgo, um upgrade. No campo das sociabilidades, foi sócio-fundador do Rotary Club de Nova Friburgo(1950) e igualmente sócio-fundador do Nova Friburgo Country Clube, da Sociedade de Tiro ao Alvo Sans Souci e do grupo de “Bolão”. No tocante ao Country Clube, a elite friburguense resolveu se desgarrar do Clube do Xadrez, já que incomodava a frequência de operários e pequenos comerciantes naquele clube. Assim como Richard Ihns, outros tripulantes de navios optaram por permanecer na aprazível Nova Friburgo, até porque, conforme sabemos, a situação econômica e social da Alemanha se agravaria depois dessa guerra. Mas essa história não teve somente final feliz. Um surto de tifo em Nova Friburgo matou uma dezena de tripulantes alemães. Quem visita o cemitério luterano normalmente estranha a presença de vários túmulos idênticos, de rapazes mortos em tenra idade em curto período de tempo. São eles os tripulantes que se encontravam detidos no Sanatório Naval e que faleceram de tifo. Trata-se ou não de um interessante episódio ocorrido em Nova Friburgo?





1 Response to "O INTERESSANTE EPISÓDIO DOS PRISIONEIROS ALEMÃES EM NOVA FRIBURGO"

Anônimo disse...

Muito interessante este episódio dos prisioneiros alemãs para a história da cidade de Nova Friburgo. Sou militar da Marinha do Brasil, e atualmente estou lotado no Sanatório Naval e ocupo uma das residências destinadas aos militares que aqui trabalham, que por sinal é bem próxima desses barracões, que foram construídos pelos prisioneiros alemãs e também lhes serviam de alojamento. hoje os mesmos encontram-se preservados e em perfeito estados de conservação e também são usados como alojamentos dos marinheiros que atualmente aqui servem.

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