Em ambas as fotos acima, aplicação de sanguessugas, prática até hoje cultivada por determinados médicos.
“As bichas grandes do Dr. E. Bouchard, único depósito das verdadeiras bichas Hamburguesas” é um anúncio que pode ser encontrado no jornal O Nova Friburgo de 12 de junho de 1904. Para o leitor que queira se divertir passando uma vista d´olhos nos anúncios dos jornais do início do século XX, disponíveis no site D. João VI, talvez esse anúncio cause estranheza. Mas afinal o que eram bichas naquela época? Bichas ou sanguessugas é um verme anelídeo e hematófago provido de duas ventosas, muito utilizada como terapêutica médica do Brasil oitocentista, quando a medicina ainda dava os seus primeiros passos. As bichas ou sanguessugas eram conservadas em um grande vaso de vidro, com água, e não eram alimentadas senão de vez em quando, com açúcar ou leite, a fim de que permanecessem sempre esfomeadas, prontas para sugarem o sangue quando fossem aplicadas sobre a pele do paciente previamente besuntada com açúcar. As sanguessugas eram aplicadas para extrair o “excesso” de sangue ou o sangue “envenenado”, indicada para a cura de diversas doenças, assim como a sangria. Eram importadas da Europa, procedendo de Portugal, França, Itália e Hamburgo. No Brasil não havia criação em grande escala do verme.
A maior parte dos aplicadores de sanguessuga eram os barbeiros, categoria médica que acabou sendo exercida por escravos. Os barbeiros eram geralmente indivíduos da baixa condição social, mulato ou negro, escravo ou livre. Debret(1818) retratou a atividade de escravos barbeiros, no Rio de Janeiro, que normalmente trabalhavam “ao ganho” em pequenas lojas no centro da cidade. Na gravura uma tabuleta continha o seguinte letreiro: “Barbeiro, cabeleireiro, sangrador, dentista e deitam bichas”. O barbeiro sangrava, aplicava ventosas e “bichas”, extraía dentes, cortava o cabelo, fazia barba, prescrevia ungüentos e pomadas e vendia em sua loja drogas como água de colônia e pós de dentes. Um escravo barbeiro que trabalhava “ao ganho” para o seu senhor tinha grande valor no mercado de escravos. Os barbeiros vendiam ou alugavam sanguessugas, variando o preço conforme o tamanho, tendo maior valor as maiores, as bichas-monstros e as mais novas, chegadas recentemente ao país. Trocavam-se as “que não pegavam”, o que acontecia com freqüência.
Já na segunda metade do século XX, vemos a palavra bicha, sendo empregada em outro sentido, como sinônimo de lombrigas. O Dr. Miranda Forte, que dava conselhos médicos na coluna “Conselhos as mães”, no jornal O Nova Friburgo, de 02 de novembro de 1957, assim escreveu: “Vários sintomas, com efeito, são lançados à conta das lombrigas(...)o mais notável entre eles é a convulsão(...)todos dizem que são as bichas...”. A palavra bicha, todos sabemos, atualmente tem o sentido depreciativo de homossexual. Mas o que é interessante é como uma palavra passa por transmutações ao longo dos séculos e acaba provocando risos e estranheza quando nos deparamos com escritos antigos. No entanto, pode-se dizer que é essa diferença que faz da História, algumas vezes, algo muito divertido.
2 Response to "VENDEM-SE BICHAS"
Obrigado pela ajuda na ONHB
leia o escrito, bichas na verdade era a forma referida a SANGUESSUGAS no período imperial
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