“A belezas magníficas que Friburgo ostenta, com seus horizontes orlados por
imensas serras de granito, atalaias naturais da cidade dos cravos rubros e das
camélias brancas; os panoramas maravilhosos que se abrem para todos os lados,
sempre variados, sempre diversos, encantando o viajante que não cessa de mirá-lo
com olhos fascinado de ver (...) Friburgo é assim uma cidade que encanta(...)
pelos matizes e nuances dos painéis que surpreendem, como telas aprimoradas por
um artista divino...”
Essa citação está inscrita no jornal O Nova Friburgo de 1935 em uma matéria que trata dos lugares pitorescos de Friburgo. Eram descritos como pontos de inigualável beleza na primeira metade do século XX, a Chácara do Paraíso, a Granja Spinelli, a Ponte da Saudade, o Sanatório Naval com sua alameda de bambuais, a Vila Amélia com suas chácaras de pêra, a Chácara Braune com seus açudes, o Tingly com seus craveiros policrômicos, o Parque São Clemente com a nobreza de seu solar, o Cônego, o Moinho da Saudade e o Catete. Eram lugares de belezas inconfundíveis onde os turistas visitavam com frequência, cuja descrição de um bucolismo inebriante povoava o jornal da época. Porém, o jornal destacava que alguns lugares que outrora constituíram verdadeiros centros de atração dos veranistas, já se encontravam desprezados “graças a incúria, a displicência, e indiferentismo dos governos que se vem sucedendo, cada qual com menor visão administrativa, cada qual com menor respeito às tradições e as belezas de Friburgo”. Na década de 30 do século XX, esses lugares já se encontravam em completo abandono e dificilmente se poderia chegar a eles porque os caminhos desapareceram e os atalhos e as picadas foram invadidos pela espessa vegetação.Entre esses lugares que figuraram outrora entre os pontos prediletos para passeios e pic-nics estavam ainda a Vista Chinesa ou Vale do Hans - a Cascata Hans, com uma queda de setenta metros -, a Cascata da Estação do Rio Grande(possivelmente o Véu das Noivas), e a mais famosa de todas, a Cascata Pinel, formada pelo Rio Grande, com uma altura de cinqüenta metros, circundada por moitas e rochas de granito. A Cascata Pinel, um dos mais poéticos recantos de Nova Friburgo, era lugar de passeio de veranistas “desde os tempos coloniais para pic-nics dos nobres e convescotes imperiais”, nos informa O Nova Friburgo de 1935.
O nome Pinel advém do sobrenome do proprietário das terras onde se situava a cascata. Carlos Pinel, descendente de Felippe Pinel, o grande psiquiatra francês, veio para o Brasil em 1839 e depois percorrer diversas províncias chegou a Friburgo em visita a família Salusse, hospedando-se em seu hotel. Encantado com a suavidade do clima de Friburgo e a pujança de sua natureza, adquiriu uma propriedade em 1842, denominada “Fazenda dos Pinéis”. Nas memórias de seus descendentes Pinel não comprara e sim recebera, por doação, essas terras(sesmarias) de D.Pedro II. Casou-se com Catharina Rimes, descendente do Barão de Rimes. Pinel era advogado e foi também um dos responsáveis pela implantação da maçonaria em Friburgo. No entanto, Carlos Pinel dedicou-se somente a agricultura no município. Foi no recanto bucólico da Cascata Pinel que em 1868, a Princesa Izabel ofereceu à embaixada chilena, uma “festa campesina” a que compareceram D. Pedro II e o Conde d’Eau, tendo sido construídas para o evento, na sua proximidade, barracas de pinho envernizadas. Nessa ocasião, Carlos Pinel fez gravar em um dos granitos que atalaiam a cachoeira, em homenagem a Princesa Izabel, a seguinte inscrição: Cascata Santa Izabel. Essa cascata, segundo descrições, fica entre Sumidouro e D. Mariana. Essa localização pode nos levar a concluir erroneamente que se trata da Cascata do Conde d’Eau, mas na realidade essa é outra queda d´água.
Em 1908, foi filmada uma “fita cinematográfica” dessa cascata, período em que teve seus dias de glória e fulgor entre os excursionistas, a nobreza e a própria família real. Fica aí uma sugestão aos poderes públicos para resgatar esse aprazível lugar, averiguar se ainda existe a inscrição Cascata Santa Izabel, e informando aos turistas que Nova Friburgo não foi a princesinha da Coroa, como Petrópolis, mas encantava a monarquia e a nobreza lusitana.
CASCATA PINEL: UM RECANTO POÉTICO EM FRIBURGO


Foto tirada por volta de 1870 na Cascata Pinel. Acervo Biblioteca Nacional
(O Brasil no século XIX fotografado por paisagistas europeus)

Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 Response to "CASCATA PINEL: UM RECANTO POÉTICO EM FRIBURGO"
Fazem pouco mais de 11 anos que visitei este belíssimo local pela primeira vez. Foi uma caminhada e tanto que fiz partindo de Riograndina e, na ocasião, aproveitei para conhecer o sítio do "Manoel do Queijo". Uma pena que a cascata não esteja sendo bem aproveitada turisticamente e que o rio não esteja recebendo os devidos cuidados com a limpeza. Tanto no passado como no presente, Nova Friburgo sempre teve um incrível potencial natural para o turismo. Quem sabe algum dia toda essa beleza não seja melhor trabalhada?
Olá que prazer encontrar esse registro no seu blog, eu sou Fabiana Pinel e criei um grupo no facebook para reunir pessoa do nome Pinel e Nova Friburgo é um recanto de Pinels hehe, uma moradora Pinel se uniu ao grupo e me indicou a cascata Pinel se voce tiver interesse em estudar junto com a gente o trajeto da familia Pinel aqui no Brasil ficarei muito feliz com a sua ajuda e apoio, procura a gente no facebook '' Pinel pelo mundo'' , até breve
Olá, moro em Friburgo e não conheço a cascata Pinel! Como faço pra chegar até ela?
Postar um comentário
AVISO:
É proibido usar palavras de baixo calão neste espaço.
Seja cordial com os outros comentaristas.
Ao fazer críticas, favor fundamentá-las.
Caso esses tópicos não sejam seguidos, os comentários serão deletados sem consulta prévia ao autor.