A PRODUÇÃO DE VINHO EM NOVA FRIBURGO

Em meados do século XIX, o Câmara Municipal de Nova Friburgo recebeu o seguinte ofício: “Diz Nicoláo Leglaye, morador nesta vila, proprietário da casa n°09 da Rua do Chateau(atual Gal. Osório), em cujo lugar é o suplicante foreiro a esta Câmara de 8 braças de terreno(...)E como o Suplicante tem dado princípio a plantação de vinho no quintal da dita casa donde espera, confiado na Divina Providência, tirar dele frutos próprios deste clima em grande abundância e até mesmo esperançado de poder fabricar vinho para o futuro, vem por isso implorar o auxílio desta Câmara concedendo-lhe mais 4 braças de terreno junto ao que já possui....”

Nova Friburgo tinha a tradição na produção de vinho em virtude da afluência de imigrantes europeus que recebeu durante todo o século XIX. Há referência de produção de vinho na Freguesia de Sebastiana(hoje parte de Teresópolis) de uvas oriundas de vários pontos de Portugal, que se prestavam perfeitamente à extração do vinho. O vinho fresco português, que denominamos de “vinho verde” e no passado de o “virgem”, era muito consumido em Nova Friburgo no século XIX.

O maior produtor era o capitão Manoel Fernandes Ennes, citado no Almanaque Laemert, em 1877, como proprietário circunscrito à Freguesia de São João Batista. Por ser o único que comercializava e distribuía seu vinho para outras localidades, na ata da Câmara de 1888 somente ele foi reconhecido como produtor, provavelmente pelo fato de os demais vinicultores terem uma produção voltada tão-somente para o mercado interno e até mesmo para consumo próprio. Teve isenção de imposto, como atualmente ocorre com a França, em que o imposto é reduzido por ser o vinho enquadrado na categoria de alimento e não de bebida alcoólica. Sua vindima possuía 1.500 videiras, plantadas em várzea, e sua produção era de 18 pipas anuais. Custavam 8 mil réis a caixa de 12 garrafas, comercializando o produto no município e no interior. A marca adotada pelo fabricante era de vinho nacional fabricado em Nova Friburgo.

Outro produtor era José Ferreira Thomé, que tinha um vinhedo próximo da área urbana, logo depois da Chácara de Duas Pedras, mas era uma produção para consumo próprio. Havia ainda Giovani Giffoni, que além de importador também fabricava seu vinho, na Chácara do Suspiro. Giffoni era o único importador no Brasil do vino rosso di Castellabate, da província de Salerno, em Nápoles, na Itália. A garrafa de seu vinho tinha na parte superior a coroa italiana entre as iniciais J. G. (João Giffoni).

Já no século XX, em 1908, por ocasião da Exposição Nacional, seguiram para o Rio de Janeiro representando Nova Friburgo, Francisco Vival Gomes e Luiz Guadagnini, fabricantes de vinhos branco e tinto, e igaulmente Pedro Lamblet, fabricante de vinho de ananás. A tradicional família de italianos, os Spinelli, imigrados para Nova Friburgo no século XIX, produzia vinho na Granja Spinelli, sob o comando de Alfredo dos Santos Spinelli. Produzia vinho branco e tinto, há época denominado de “claro e escuro”. No periódico O Friburguense há ainda o anúncio do “O vinho do Rio Grande – marca CAC”. Rio Grande era como se chamava o bairro de Conselheiro Paulino no passado. Ressalta o anúncio que o produto é puro, não adulterado, engarrafado pela Cia. Antarctica e cumprindo todos os requisitos de higiene.

Enfim, não podemos afirmar que os romanos na antiguidade passaram por Nova Friburgo, como fizeram com a França, Espanha e outros países, espalhando suas videiras para produzir vinho para seus exércitos. Mas felizmente os imigrantes europeus trouxeram a experiência de seus torrões natais o que nos faz refletir sobre a seguinte questão: Com essas mudanças climáticas, é possível produzir vinho nos atuais em Nova Friburgo?

1 Response to "A PRODUÇÃO DE VINHO EM NOVA FRIBURGO"

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Interessante artigo, pois sempre tive curiosidades a este respeito. Mas por que essa saudável tradição praticamente se extinguiu por aqui? Talvez a indagação final do artigo ajude-nos a encontrar a resposta pois, embora seja possível produzir vinhos na Serra, tal como se vê no Vale do São Francisco, talvez a qualidade não viabilizaria a concorrência considerando-se também os custos da produção. Já os vinhos artesanais teriam alguma possibilidade.

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