DECÁLOGO DE RESPEITO À NATUREZA

Acima: O Prof. Menezes Wanderley




Antonio Francisco de Menezes Wanderley foi o maior intelectual do final do século 19 e início do 20 em Nova Friburgo. Natural do Estado da Paraíba do Norte, residiu na capital federal onde trabalhou em diversos jornais. Do Rio de Janeiro veio para Nova Friburgo contratado para dirigir o periódico O Friburguense. Foi então convidado para ser professor do Lyceo Nacional, do Instituto Sul-Brazil e do Externato América. Abriu uma escola noturna gratuita na cidade para alfabetizar aqueles que labutavam durante o dia. Além de colaborar com diversos periódicos da cidade, como os jornais O Friburguense e A Paz, fundou o Correio Popular, O Rebate, a Escola e dirigiu o Democrata. Muito jovem ainda, com 25 anos de idade, tinha um vasto currículo acadêmico, sendo considerado um excelente orador e latinista, autor de peças teatrais, poeta, literato, tendo lançado os livros “Hosannas” e “Flores Agrestes”, um prodígio à época já que a produção de um livro era muito cara.
Esse ilustre professor era maçom e devido a sua bagagem intelectual, em 1933, recebeu do então prefeito da cidade uma incumbência: elaborar um decálogo, conjunto de dez princípios morais, para educar as crianças friburguenses na sua relação com a natureza. Pelo teor do decálogo, as belas e floridas praças da cidade que povoavam as narrativas e crônicas dos que visitavam o bucólico centro de Nova Friburgo, viviam depredadas por ações de vandalismo, principalmente por parte das crianças. Esse decálogo foi impresso em um livreto e distribuído em todas as escolas municipais de Nova Friburgo.
Vejamos as normas que o Prof. Menezes Wanderley elaborou dando o interessante título de “Voz da Natureza”: “CRIANÇA! OUVE O QUE TE DIGO: SER DE BONS COSTUMES É SER UM MENINO BEM CRIADO E EDUCADO PARA UTILIDADE DA VIDA, DA PÁTRIA E DA FAMÍLIA! 1°: Não derrubes as árvores, não as maltrate, não as desfolhe, seja qual for o lugar em que as encontre; 2°: Não depredes os jardins públicos. São lugares próprios para descanso e recreio dos habitantes do lugar, cujo número tu estás; 3°: não pises no gramado de seus canteiros. É um tapete verde-esmeralda, o qual alegra os olhos em harmonia com o azulado das montanhas e com o anil do céu; 4°: Não arranques as flores que adornam os canteiros. Elas seduzem os olhares dos passeantes e perfumam o ambiente. São como estrelas na terra; 5°: Não tires mudas, pelo fato de achares lindas as flores ou raras as suas qualidades; 6°: Não firas os troncos das árvores, abrindo neles nomes, teu ou de pessoas de tua amizade, só pelo gosto de vê-los aí estampados, quando passares por lá, talvez, um dia na vida; 7°: Não consintas que meninos desocupados e de maus instintos procurem maltratar as plantas que tanto bem fazem abrigando os cansados, atraindo as aves que cantam e as borboletas multicores que adejam; 8°: Não te esqueças que o governo, para ali as colocar, gastou muito dinheiro com o fim de preparar aquele logradouro público e ainda despende anualmente grande soma com a sua conservação. Esse dinheiro é fornecido pelo suor do povo. 9°: Não olvides esses conselhos, que são do maior proveito para a formação do teu caráter, eles dão mostra fiel da tua educação atual, e garantem que hás de ser um homem de bem no futuro. 10°: Não queiras ser um menino que mereça a censura dos homens de bem, mas um amiguinho de tudo o que é bom, merecedor dos aplausos dos homens sensatos e digno das lições que hás recebido na escola.”

Esse decálogo não teria muita razão de ser atualmente. Não que o seu teor esteja ultrapassado, ao contrário. No entanto, perdeu o seu sentido, pois há muito tempo não vemos uma natureza pujante na Praça Getúlio Vargas e nas demais praças da cidade, considerado outrora como o município dos cravos vermelhos e das camélias brancas. É difícil compreender o abandono da praça principal da cidade, que tanto encantava os visitantes do século passado, por sucessivos governos municipais. Foi uma progressiva gestão de administradores que desprezaram o maior e mais simbólico espaço de sociabilidade de uma cidade: as praças públicas. Como no início do século 19 se acreditava que as doenças vinham do ar, pois se desconhecia a existência de microorganismos, só descoberto em 1862, preconizava-se o plantio de árvores e boulevards nas vilas e cidades para higienizar o ar “corrompido” pelos miasmas. Logo, as praças públicas tinham muito mais uma função de atender a uma política pública higienista do que ser um espaço de sociabilidade. Posteriormente essa segunda função superou a primeira.
Porém, atualmente, com a poluição do ar nas cidades, as praças voltam a ter essa função “higiênica” e não somente ser um espaço de recreio da população. A Praça Getúlio Vargas, cujos eucaliptos abrigaram sob suas sombras sucessivas gerações de friburguenses, ainda constitui um espaço de sociabilidade aos mais renitentes, que insistem em sentar-se em seus bancos ruídos, vislumbrar o mato em sua volta e arriscar-se a mordida de roedores. O coreto, com o seu aspecto fúnebre, simboliza o descaso dos prefeitos que justificam a sua inércia sob o manto de que aquele pardieiro é tombado pelo patrimônio histórico. Vamos ver se com as campanhas pela renovação de Nova Friburgo essa praça, e igualmente as demais da cidade, voltem a ser o cartão postal como foi no passado.

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