Operários na saída do trabalho da Fábrica Ypu
No dia 11 desse mês de junho, um anúncio no jornal O Globo trazia os seguintes dizeres:“Rendas Arp. Fundada em Nova Friburgo pelo Conselheiro Peter Julius Ferdinand Arp, imigrante alemão, a Fábrica de Rendas Arp completa, neste sábado, 100 anos de existência. Líder no segmento de bordados no Brasil(...) a empresa é administrada pela 5° geração da família Arp(...)demonstra pelo seu centenário uma prova de superação. Queremos partilhar com nossos clientes e funcionários o sucesso desses 100 anos”. Confesso que achei o anúncio simplório em se tratando do centenário de uma empresa no qual trabalharam cinco gerações de friburguenses. Merecia semelhante anúncio no jornal local.
Aos friburguenses que desconhecem a sua história, o fundador da Rendas Arp, Julius Arp, além da importância de ser o primeiro industrial, foi igualmente o timoneiro de outras indústrias nos ramos têxtil, acessórios em couro e metalúrgica, que se instalaram ao longo da primeira metade do século 20, em Nova Friburgo. A instalação dessas indústrias provocou uma ruptura na história de Nova Friburgo e merecia melhor atenção e reflexão sobre essa rica passagem. Não desejo aqui tecer preito ao capitalismo nem colocar os industriais alemães como os grandes benfeitores do município. Sabe-se da exploração do trabalho e do conflito de classes, motor da História, que o capitalismo gera, mas apenas gostaria de lembrar esse importante momento histórico. Não vi a Associação Comercial e Industrial de N.F. fazer qualquer menção sobre essa data. Os historiadores João Raimundo de Araújo e Ricardo da Gama Rosa Costa publicaram em AVS, em maio, por ocasião do aniversário da cidade, duas interessantes matérias sobre o assunto, “Assim se passaram 100 anos” e “Cem Anos de Lutas Operárias em Nova Friburgo”, respectivamente. A indiferença do poder público municipal e de outras instituições é simbolizada no Pró-Memória, fechado desde novembro de 2010, onde as autoridades fazem ouvidos moucos aos apelos dos historiadores sobre a sua abertura. Nem a linha da “Sorbonne” da Câmara Municipal se sensibilizou a tal apelo. Mas isso é outra história.
A representação da presença alemã em Nova Friburgo é vinculada ao segmento industrial. A partir de 1911, empresários alemães implantaram indústrias têxteis, artigos em couro e metalúrgicas, colocando Nova Friburgo na Era industrial. Peter Julius Ferdinand Arp, primus inter pares, Maximilianus Falck e Otto Siems compunham, de acordo com o jornal O Friburguense, de 28 de abril de 1935, a Trindade Teutônica, os fundadores das “colméias de trabalho”. Julius Arp, Maximilianus Falck e Otto Siems inauguraram as fábricas de Rendas Arp, Ypú e fábrica Filó, respectivamente. Esses empresários eram vistos como representantes do “primoroso povo germânico” e como os responsáveis por uma nova Era, em Nova Friburgo. O município passa da representação de uma bucólica cidade veranista para uma cidade industrial.
Peter Julius Ferdinand Arp(1858-1945) nasceu na Alemanha, vindo com 23 anos de idade para o Brasil. Chegou ao Rio de Janeiro no início de 1882. Em Santos dedicou-se ao comércio do café e um ano depois, retornou ao Rio de Janeiro, empregando-se em uma empresa importadora de máquinas de costura, brinquedos, armas, etc. Trabalhara para a firma Nothmann, mas quando o proprietário faleceu adquiriu essa empresa juntamente com outro sócio, alterando o seu nome para Arp & Cia. Posteriormente, essa firma se transformaria em uma holding. Em 1901, Julius Arp torna-se sócio de uma fábrica de meias em Joinvile, encampando-a ulteriormente. Empresário do tipo self made man, interessou-se na aquisição da concessão do serviço de fornecimento de energia elétrica em Nova Friburgo, contrato até então estagnado entre a Câmara Municipal e o coronel Antônio Fernandes da Costa. Julius Arp obteve a concessão do fornecimento dessa energia e ainda hoje avistamos na estrada que liga o centro da cidade a Mury, uma pequena casa de alvenaria escrita “Usina Hans, 1911”. Ainda que sejamos indiferentes à História, esses monumentos estão aí para nos lembrar por que somos assim.
A Companhia de Eletricidade de Nova Friburgo era o sinal verde para implementação de um parque industrial em Nova Friburgo. Adquirindo terras dos herdeiros dos barões de Nova Friburgo, Julius Arp fundou em junho de 1911, com a razão social M.Sinjen & Cia., a Fábrica de Rendas Arp. Em sociedade com Maximilian Wilhelm Bogislav Falck, Julius Arp montou uma fábrica de artigos de passamanaria, surgindo a Fábrica Ypu S.A. Em 1919, se desligaria da Fábrica Ypu. A estação de trem desde então foi tomada pelo transporte contínuo de máquinas para as indústrias e o bulício de idas e vindas de técnicos alemães a Nova Friburgo despertava a curiosidade local. Foi Julius Arp quem convenceu Carl Ernst Otto Siems, que desejava instalar uma fábrica no Brasil, a investir em Nova Friburgo. Em 1925, surgia a Fábrica de Filó S.A. de propriedade de Otto Siems no qual Arp era acionista. Estava formada a Trindade Teutônica. Em 1937, incentivados por Julius Arp, Hans Gaiser e Frederico Sichel inauguravam o ciclo metalúrgico, somando-se às empresas alemãs no município. Criava-se a Fábrica de Ferragens Hans Gaiser(Haga). Deixo ao articulista do jornal A Paz a conclusão dessa matéria: “...a nossa cidade experimentará, pela primeira vez, a sensação do estremecimento do seu solo para força propulsora da indústria moderna(...) é o início de uma nova Era para a nossa cidade...”(29/01/1911). Diante desses fatos, a Era industrial não merecia ficar no limbo da história de Nova Friburgo.
Curiosos observam a construção da Fábrica Ypu
O anúncio do centenário publicado em O Globo em 11/06/2011
1 Response to "A TRINDADE TEUTÔNICA:A ERA INDUSTRIAL NO LIMBO DA HISTÓRIA"
As rendas da Filó são inigualáveis. Beleza, qualidade. Gostaria de saber onde encontrar. Agradecida. Maria Cristina Franchi. - fone: (11) 4221-2102 W.sapp (11) 99568-8569
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