Patrimônio Histórico de Nova Friburgo


Diagnóstico dos Patrimônios Históricos e Culturais de Nova Friburgo afetados pelo sinistro ocorrido na madrugada do dia 12 de janeiro de 2011:
Patrimônios tombados pelo Patrimônio Nacional (IPHAN):
1. Praça Getúlio Vargas - Projeto do renomado paisagista e botânico francês Glaziou, executado pelo engenheiro Carlos Engert, em 1880 e financiado pelo Barão de Nova Friburgo: parcialmente destruído.
2. Conjunto arquitetônico do Parque São Clemente - Constituído pelo Chalet do Barão de Nova Friburgo e parque botânico, projetado pelo paisagista Glaziou, em 1861: ambos destruídos.
3. Conjunto arquitetônico, em estilo moderno, do Parque Hotel, projeto de Lucio Costa, em 1950, conhecido como "jóia da arquitetura moderna": destruído pelas chuvas.

Tombados pelo INEPAC - Patrimônio do Estado:
1. Igreja Matriz de São João Batista - Construção iniciada em 1851 com recursos do Barão de Nova Friburgo: parcialmente afetado.
2. Prédio do IENF - Colégio Estadual Ribeiro de Almeida. Não afetado.
3. Residência do Barão de Nova Friburgo, erguido em 1842, primeira construção em pedra e cal, marco da arquitetura de Nova Friburgo. Parcialmente afetado.
4. Capela de Santo Antônio, erguida em 1885 pelo músico Samuel Antônio dos Santos. Seu Campanário é projetado e construído pelo arquiteto Lucio Costa, em 1948: destruído pelas chuvas.
5. Cúria Metropolitana de Nova Friburgo, erguido em 1870, para residência da família Campbell, atual residência do Bispo da Diocese de Nova Friburgo: parcialmente afetado pelas chuvas
6. Colégio Nossa Senhora das Dores. No local se estabeleceu, em 1841, o Colégio Freeze, do inglês John Freeze, que formou boa parte da elite política do Império. O prédio atual foi edificado para ser o Hotel Central, anexo ao Estabelecimento Hidroterápico do médico Carlos Éboli: parcialmente afetado pelas chuvas.
7. Conjunto da Estação Ferroviária de Rio Grandina - Composta de: Casa do Administrador, Plataforma de embarque, depósitos e ponte treliçada, construída em 1875: destruído pelas chuvas.
8. Conjunto da Estação Ferroviária de Nova Friburgo, hoje denominado Palácio Barão de Nova Friburgo, sede da Prefeitura Municipal, construído a partir de 1873, para ser sede do ramal ferroviário da Estrada de Ferro Cantagalo: parcialmente afetado pelas chuvas.
9. Colégio Anchieta, pertencente a ordem jesuíta, erguido em 1901, para sediar o primeiro colégio católico do interior da Província do Rio de Janeiro: seriamente afetado.
10. Complexo arquitetônico do Sanatório Naval, erguido a partir de 1890 para ser residência de caça do Barão de Nova Friburgo: preservado.
11. Residência do Barão de Sumidouro, erguido em 1890, depois sede da antiga LBA e hoje sede da Secretaria de Assistência Social: afetado pelas chuvas .
12. Antiga residência do Barão de Duas Barras, erguido em 1890, atual sede da Faculdade de Odontologia, da Universidade Federal Fluminense: afetado pelas chuvas.
Tombados pelo INEPAC - Patrimônio Municipal:
1. Residência do Deputado Federal Galdino do Valle Filho, erguida em 1917: pouco afetada pelas chuvas.

Patrimônio Imaterial de Nova Friburgo (Não Tombados)*
1. Memorial da Colonização Suíça, situado no Distrito de Conquista, no complexo da Queijaria Escola e Casa Suíça: afetado pelas chuvas.
2. Arquivo Pró-Memória de Nova Friburgo, patrimônio da Fundação D. João VI de Nova Friburgo, instituída nos termos de Lei Municipal, sob a forma e personalidade jurídica de Fundação Pública de Direito Público, é uma entidade sem fins lucrativos, com objetivo de preservar a História de Nova Friburgo, suas memórias. O arquivo guarda, aproximadamente, 1,5 milhão de itens, entre documentos impressos, manuscritos, datados a partir de 1817, consta ainda de um imenso acervo iconográfico da cidade, datado a partir de 1825: Não afetado diretamente pela tragédia.
*Não tombados, existem inúmeros outros patrimônios, assim como monumentos de valor histórico agregado, seriamente danificados em virtude da tragédia que se abateu sobre a cidade. Exemplos: Praça do Suspiro e a sua fonte de água.

O PÉ DE BICHO NO MUNDO DO FAZ DE CONTA:AS MEMÓRIAS DE LEÔNIDAS DA VILAGE DO SAMBA

Normalmente se reconhece um apaixonado por sua escola de samba quando se chega, sem marcar hora, para fazer uma entrevista, como foi o meu caso, e encontra o sujeito com a camisa do “Grêmio Recreativo da Vilage”, a verde e branca. Foi assim que encontrei, com a camisa de sua escola, recostado na janela, Luiz Leônidas do Nascimento. Nascido em 1932, morou a vida inteira na Vilage. No passado, recorda-se que próximo à sua casa ficava a chácara do Manoel Rodrigues onde havia plantação de uvas e fabricação de vinho branco. A molecada ajudava na colheita da uva, que dava direito a generosos copos do vinho do Patatinha, como era conhecido o português Manoel. Leônidas tornou-se uma liderança na Vilage, numa época em que havia rixa entre os bairros da cidade. Havia a turma do Centro, da Vila Amélia, do Paissandu e “o pessoal da General Osório era um perigo”, diz Leônidas. Segundo ele, “rolava o sopapo” quando um membro de um bairro entrava no “território” do outro. Mas a turma da Vilage era considerada a melhor de briga. Leônidas transgrediu duas vezes essa fronteira dos bairros: A primeira, quando se apaixonou por Tereza, que morava nas Braunes, casando-se com ela e levando-a para a Vilage. A segunda, foi quando ele juntamente com Estrangeiro, Eliude, Tião e Nelson resolveram participar da “Alunos do Samba”, escola pertencente ao centro da cidade (hoje a escola pertence a Conselheiro Paulino). Ensaiavam na Rua Monsenhor Miranda, freqüentada pelos “filhos do Sr. Doutor”, relata Leônidas. Chegando lá foram expulsos, pois eram considerados “pé de bicho”, ou seja, andavam descalços. Leônidas e seus amigos não tinham dinheiro para comprar sapatos: “Éramos pé de bicho porque dava bicho[de pé] mesmo, não tinha jeito, de vez em quando tinha que tirar um bichinho do pé...”, recorda-se Leônidas.


Inconformados com a expulsão, fundaram a própria escola e foi nesse momento que surgiu o “Grêmio Recreativo Vilage do Samba”, fundado em 23 de setembro de 1948. Para tanto, foram na fábrica de Carbureto(onde hoje é a Frivel) e roubaram latões de carbureto para fazer os surdos. Cortando os latões ao meio fizeram o tarol. O couro de cabrito e de novilho, ideal para os instrumentos, era doado pelo alemão Edmundo Weidlich, do Curtume de Duas Pedras. Confeccionaram os tamborins, os triângulos e somente o agogô foi comprado. O símbolo da águia foi Leônidas quem escolheu, pois gostou da imagem que um amigo trouxe dos Estados Unidos e a cor verde e branca, também partiu dele. Foram campeões no primeiro ano que a Vilage do Samba desfilou, em 1949. Perderam em 1950, mas ganharam em 1951, 1952 e 1953. E a Vilage do Samba desde então sempre se destacou no carnaval da cidade. Vocês marcaram território quando fundaram a Vilage, pergunto? “Não, na Vilage do Samba qualquer um poderia participar”, responde Leônidas. Não fizeram com os outros o que “Alunos do Samba” fez com ele e o seu grupo, excluindo-os. Além dos “Alunos do Samba” havia outras escolas como a “Saudade”, criada seis meses antes da Vilage, e a “Chacrinha”, ambas do Bairro Ypu. Havia ainda a “Unidos do Terreirão”, de Olaria. O Clube de Futebol Esperança era o único clube esportivo que tinha escola de samba, denominada “Unidos Verdejante”.


Com o passar dos anos a estrutura das escolas de samba não alterou muito, afirma Leônidas. Mas no passado, havia a ala das “Pastorinhas”, ala das moças bonitas, com vestidos longos. A escola tinha pouco mais de cem componentes. Nessa época não havia samba-enredo feito pelas escolas. “Não tinha esse negócio da escola fazer o seu samba”, relata Leônidas. Escolhia-se um samba conhecido e se desfilava cantando esse samba. O compositor da escola de samba surgiu apenas em 1955. Eram bons tempos para o carnaval da cidade. As fábricas disputavam quem auxiliava mais as escolas de samba assinando o “Livro de Ouro”. As fábricas “assinavam” mais que o comércio. O governo federal também auxiliava com dinheiro, através da prefeitura, para as escolas de samba. O folião não pagava pela fantasia. Comprava-se as fantasias com o que se arrecadava no “Livro de Ouro”.

Em novembro se começava os preparativos para o desfile das escolas. Hoje é feito com mais antecedência, em julho. Uma diferença do carnaval antigo eram os passistas, que sambavam mesmo. Tinham que dançar conforme o ritmo da música. Leônidas se ressente que hoje em dia o folião somente pula e não se preocupa em dançar com o ritmo do samba. Fazem coreografia apenas. Tereza, sua esposa, interfere e diz que havia preconceito no passado quanto às passistas: “escola de samba não era para filha de família, era para moça que não prestava”. A casa de Leônidas e Tereza transpira hospitalidade. Quando conversei com ambos parece que já os conhecia há muitos anos. Tereza disse orgulhosa que na véspera, quem tomou café em sua casa foi Rogério Faria, dono da STAM. Rogério, como seu pai Francisco Faria, é um mecenas da Vilage do Samba. A diretoria da escola fizera uma homenagem a Leônidas tocando em frente à sua casa. Leônidas sorriu quando pedi para ouvir o samba, pois a maneira com que se refere à sua escola é contagiante. Ouvi o samba e ele me presenteou com o CD autografado. Quando escrevi a matéria revi o enredo da Vilage do Samba que fala dos “Filhos Do Faz De Conta”. Lembrei-me da trajetória de Leônidas. O “pé de bicho”, como foi chamado, entrou no mundo do faz de conta, criou uma escola de samba com bateria de latões de carbureto e hoje, recostado em sua janela, pode tranquilamente dizer da escola que criou: “Hoje o sonho é real/ ganhei a vida, virei carnaval/ boneca sapeca a sambar/ na vila que me faz cantar.”

Crédito: Fotos extraídas do Blog "Vilage do Samba".

Em virtude da catástrofe natural ocorrida em Nova Friburgo
na madrugada do dia 12 de fevereiro de 2011, não houve carnaval no município em
respeito às vítimas do sinistro.

DECÁLOGO DE RESPEITO À NATUREZA

Acima: O Prof. Menezes Wanderley




Antonio Francisco de Menezes Wanderley foi o maior intelectual do final do século 19 e início do 20 em Nova Friburgo. Natural do Estado da Paraíba do Norte, residiu na capital federal onde trabalhou em diversos jornais. Do Rio de Janeiro veio para Nova Friburgo contratado para dirigir o periódico O Friburguense. Foi então convidado para ser professor do Lyceo Nacional, do Instituto Sul-Brazil e do Externato América. Abriu uma escola noturna gratuita na cidade para alfabetizar aqueles que labutavam durante o dia. Além de colaborar com diversos periódicos da cidade, como os jornais O Friburguense e A Paz, fundou o Correio Popular, O Rebate, a Escola e dirigiu o Democrata. Muito jovem ainda, com 25 anos de idade, tinha um vasto currículo acadêmico, sendo considerado um excelente orador e latinista, autor de peças teatrais, poeta, literato, tendo lançado os livros “Hosannas” e “Flores Agrestes”, um prodígio à época já que a produção de um livro era muito cara.
Esse ilustre professor era maçom e devido a sua bagagem intelectual, em 1933, recebeu do então prefeito da cidade uma incumbência: elaborar um decálogo, conjunto de dez princípios morais, para educar as crianças friburguenses na sua relação com a natureza. Pelo teor do decálogo, as belas e floridas praças da cidade que povoavam as narrativas e crônicas dos que visitavam o bucólico centro de Nova Friburgo, viviam depredadas por ações de vandalismo, principalmente por parte das crianças. Esse decálogo foi impresso em um livreto e distribuído em todas as escolas municipais de Nova Friburgo.
Vejamos as normas que o Prof. Menezes Wanderley elaborou dando o interessante título de “Voz da Natureza”: “CRIANÇA! OUVE O QUE TE DIGO: SER DE BONS COSTUMES É SER UM MENINO BEM CRIADO E EDUCADO PARA UTILIDADE DA VIDA, DA PÁTRIA E DA FAMÍLIA! 1°: Não derrubes as árvores, não as maltrate, não as desfolhe, seja qual for o lugar em que as encontre; 2°: Não depredes os jardins públicos. São lugares próprios para descanso e recreio dos habitantes do lugar, cujo número tu estás; 3°: não pises no gramado de seus canteiros. É um tapete verde-esmeralda, o qual alegra os olhos em harmonia com o azulado das montanhas e com o anil do céu; 4°: Não arranques as flores que adornam os canteiros. Elas seduzem os olhares dos passeantes e perfumam o ambiente. São como estrelas na terra; 5°: Não tires mudas, pelo fato de achares lindas as flores ou raras as suas qualidades; 6°: Não firas os troncos das árvores, abrindo neles nomes, teu ou de pessoas de tua amizade, só pelo gosto de vê-los aí estampados, quando passares por lá, talvez, um dia na vida; 7°: Não consintas que meninos desocupados e de maus instintos procurem maltratar as plantas que tanto bem fazem abrigando os cansados, atraindo as aves que cantam e as borboletas multicores que adejam; 8°: Não te esqueças que o governo, para ali as colocar, gastou muito dinheiro com o fim de preparar aquele logradouro público e ainda despende anualmente grande soma com a sua conservação. Esse dinheiro é fornecido pelo suor do povo. 9°: Não olvides esses conselhos, que são do maior proveito para a formação do teu caráter, eles dão mostra fiel da tua educação atual, e garantem que hás de ser um homem de bem no futuro. 10°: Não queiras ser um menino que mereça a censura dos homens de bem, mas um amiguinho de tudo o que é bom, merecedor dos aplausos dos homens sensatos e digno das lições que hás recebido na escola.”

Esse decálogo não teria muita razão de ser atualmente. Não que o seu teor esteja ultrapassado, ao contrário. No entanto, perdeu o seu sentido, pois há muito tempo não vemos uma natureza pujante na Praça Getúlio Vargas e nas demais praças da cidade, considerado outrora como o município dos cravos vermelhos e das camélias brancas. É difícil compreender o abandono da praça principal da cidade, que tanto encantava os visitantes do século passado, por sucessivos governos municipais. Foi uma progressiva gestão de administradores que desprezaram o maior e mais simbólico espaço de sociabilidade de uma cidade: as praças públicas. Como no início do século 19 se acreditava que as doenças vinham do ar, pois se desconhecia a existência de microorganismos, só descoberto em 1862, preconizava-se o plantio de árvores e boulevards nas vilas e cidades para higienizar o ar “corrompido” pelos miasmas. Logo, as praças públicas tinham muito mais uma função de atender a uma política pública higienista do que ser um espaço de sociabilidade. Posteriormente essa segunda função superou a primeira.
Porém, atualmente, com a poluição do ar nas cidades, as praças voltam a ter essa função “higiênica” e não somente ser um espaço de recreio da população. A Praça Getúlio Vargas, cujos eucaliptos abrigaram sob suas sombras sucessivas gerações de friburguenses, ainda constitui um espaço de sociabilidade aos mais renitentes, que insistem em sentar-se em seus bancos ruídos, vislumbrar o mato em sua volta e arriscar-se a mordida de roedores. O coreto, com o seu aspecto fúnebre, simboliza o descaso dos prefeitos que justificam a sua inércia sob o manto de que aquele pardieiro é tombado pelo patrimônio histórico. Vamos ver se com as campanhas pela renovação de Nova Friburgo essa praça, e igualmente as demais da cidade, voltem a ser o cartão postal como foi no passado.

NO SUSPIRO TRÊS ALMAS GEMEM DE DOR: AMOR, SAUDADE E CIÚME

q


A Fonte do Suspiro era a principal fonte da vila de Nova Friburgo desde a sua fundação em 1820, onde os habitantes abasteciam de água as suas residências. Com o passar do tempo, a fonte provocou a urbanização local surgindo a Praça do Suspiro e a igrejinha de Santo Antônio. O mais interessante é que as águas de suas fontes acabaram cercadas de lendas criadas pela população de Nova Friburgo. Na Fonte do Suspiro foram canalizadas três bicas: do Amor, da Saudade e do Ciúme. Jorrava água fresca e cristalina, cantando andeixas sentidas e amarguradas. Daí o hino de Nova Friburgo que lhe tece louvores: “...Do suspiro na fonte saudosa/ Há três almas que gemem de dor/Repetindo esta prece maviosa/Da saudade, do ciúme e do amor...”. A Fonte do Suspiro era considerada desde tempos antigos, até mais da metade do século 20 como uma das “maravilhas” de Friburgo, o recanto mais formoso da cidade, “onde cada friburguense tem uma parte de sua alma e um pedacinho do seu coração”. Não havia quem tendo amado não tenha procurado aquele recanto florido e bucólico, lugar onde a natureza concentrara sua magia, revestindo-se de galas e pomas. Dizia a lenda que quem beber da “Fonte Encantada do Suspiro” a ela se prenderá por toda a vida! Acreditava-se que o viajante que bebia um pouco de sua água pura, que jorrava cantante das três fontes, certamente voltaria a Friburgo, porque a saudade lhe encheria o coração. Era uma fonte impregnada de feitiço e lendas. Para os que viveram grandes paixões em seus jardins, o suspiro representava o tabernáculo de sonhos do passado. Era uma referência para os que já amaram e para os que ainda amavam. Não há álbum de fotos de mocinhas e touristes do século 19 que não tivesse como locação a Fonte do Suspiro.

Um vereador queixou-se certa feita dos namoros fogosos na Praça do Suspiro, onde se praticava ali “atos que devem ser vedados”. O jornal O Friburguense do final do século 19, nos legou uma deliciosa crônica que traduz um pouco do cotidiano dessa praça. Numa quinta-feira, quando as horas do labor diurno cediam o passo às de descanso, um voyeur, discreto no andar, de paletó-saco, pincenê e guarda-chuva à mão, observando um casal de namorados na Praça do Suspiro, assim escreveu: “...Ali, sentados em um dos bancos, ele, o Romeu de jaqueta de brim e sem escada de seda enlaçou aquela Julieta (…) e ei-los n’um doce colóquio, n’um devaneio amoroso que a brisa suave da tarde acalentava. Discreto caçador que por lá passava, quedou-se, protegido pelo largo tronco de uma árvore, a contemplar o arrulho dos dois pombinhos, que começavam a cantar os seus idílios antes que as sombras da noite caíssem sobre aquele sítio tão propício a tais situações. O quadro vivo era digno de ser visto, enquanto que a fonte cantava sonoramente ao lançar os seus jactos de cristal sobre a bacia de granito, eles, embalados pela cadencia de uma melodia que os seus instintos entoavam, falavam as coisas ternas, de cousas sensíveis e osculavam-se[beijavam-se] impudicamente. Depois ergueram-se, olharam-se naturalmente e tomaram ansiosos o caminho do bosque. O caçador, única testemunha desta cena erótica, farto de presidi-la qual cupido desvendado, seguiu sua trilha; o bosque, que não fala, que guarda tantos segredos, recolheu as últimas horas dessa canção de amor. E o Suspiro, o poético Suspiro, o passeio predileto dos touristes, o logradouro publico onde de preferência as famílias fazem os seus passeios, nem ao menos respeitado durante o dia.” (O Friburguense, “Quadro Vivo”, de 28-6-1896.)

Mas o Suspiro era também um lugar para os que vinham buscar na mansuetude bucólica de Nova Friburgo e na salubridade do bom clima, o reconforto para o espírito e o retempero para sua saúde, encontrando ali o encantamento doce e a estesia miraculosa que erguem o ser abatido. No imaginário da população, além do romantismo que ela evocava, era também notório que as águas de suas fontes restauravam a saúde, consolavam os tristes, alentavam os vivos, davam robustez aos fracos, restaurando-lhes o vigor. Faziam lenir as dores dos que sofriam e dizia-se que até mesmo “ressuscitava os quase-mortos”. No século 19, a Praça do Suspiro era o mais importante espaço de sociabilidade. O único passeio público das famílias friburguenses para ali “recrear-se” aos domingos. O Clube Atlético Bargossi solicitou em 1886 à Câmara Municipal permissão para colocar “postes da raia” na Praça do Suspiro para que o clube realizasse corridas de cavalo aos domingos e dias santificados. A batalha das flores, por ocasião do carnaval, era igualmente realizada nessa praça por onde desfilava o préstito de carruagens floridas. Por abrigar a igrejinha de Santo Antônio, as festas do orago eram realizadas em sua praça, para onde acorria toda a população.

Passando ao século 20, José Mastrângelo nos informa que as águas da Fonte do Suspiro eram ferruginosas, auxiliando a “soltar o intestino”. Quando a torcida adversária comparecia ao Campo do Fluminense(atual Friburguense), que era localizado onde hoje é o Teatro Municipal, a gaiata galera de Friburgo oferecia a “famigerada água” da Fonte do Suspiro aos torcedores, provocando-lhes diarréia e terríveis flatulências. Se utilizarmos a fonte iconográfica podemos observar que foi a praça que mais sofreu intervenções dos poderes públicos em Nova Friburgo, diferençando-se imensamente a sua paisagem ao longo dos anos. Nunca imaginaríamos que a pracinha do Suspiro entraria na história simbolizando a catástrofe da enchente e desmoronamentos dos morros ocorridos em Nova Friburgo na madrugada do dia 12 de janeiro de 2011. O futuro da Fonte do Suspiro ainda não sabemos. Considerando que o hino de Nova Friburgo se refere a essa fonte, as três almas que gemem de dor, Amor, Saudade e Ciúmes, fica o registro da história da Fonte do Suspiro para as futuras gerações.

NOVA FRIBURGO, PETRÓPOLIS OU TERESÓPOLIS? PARA ONDE OS CARIOCAS IRÃO NO VERÃO?

Nova Friburgo. Foto: Paulo Noronha



Nova Friburgo. Foto: Rosana Gomes



Petrópolis: Hotel Quitandinha





Serra de Teresópolis

Diante da catástrofe natural ocorrida entre os dias 11 e 12 de janeiro de 2011, Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis se irmanaram na dor das perdas humanas e materiais. As três cidades serranas habituadas a ter seus nomes estampados na imprensa como aprazíveis locais de veraneio, se viram numa macabra estatística no qual Nova Friburgo encabeçou a lista fúnebre com o maior número de mortos e de perdas materiais. Autoridades governamentais desses municípios se solidarizaram e igualmente a população dessas regiões. Mas houve momentos de nossa história em que, pelo menos por parte dos friburguenses, a rivalidade de Nova Friburgo em relação às co-irmãs da região serrana era levada a extremos. A imprensa local, a exemplo do jornal O Friburguense, que era distribuído no Rio de Janeiro e em Niterói, ao mesmo tempo que tecias loas ao clima de Friburgo, menosprezava Petrópolis e Teresópolis.

A partir de 1847, a Corte passou a mudar com regularidade para então vila de Petrópolis. A morte na tenra idade dos dois herdeiros do Imperador Pedro II, Afonso(1845-47) e Pedro(1848-50) consagrava o Rio de Janeiro como uma cidade com uma atmosfera pestilenta, onde grassavam epidemias de febre amarela, provocando a fuga dos cariocas abastados no verão. O ambiente das montanhas passou a ser uma solução imediata para a elite livrar-se da mortandade que se abatia sobre o Rio de Janeiro com a chegada do verão. Quando o mais racional seria resolver o problema do saneamento da cidade, preferiam mudar-se para as montanhas, o que acabou incrementando a economia das cidades serranas, fomentado o turismo. Logo, na estação calmosa, o verão, a elite carioca trocava os “salões” pelas pitorescas e bucólicas cidades próximas a Corte. Nova Friburgo era uma delas. No entanto, Petrópolis sempre fora a favorita da família real e isso incomodava profundamente os friburguenses.
Com a proclamação da República a disputa ficou acirrada. Nova Friburgo concorreu e perdeu para Petrópolis a regalia de ser capital do Estado por um determinado período, mas transformou a ameaça em oportunidade: “...A cidade do Rio de Janeiro está quentíssima, mais quente que o fogo em brasas, faz ali um calor insuportável, quanto mais nos próximos meses de novembro a março. E isto o que todos sabem, não carece demonstrar. Sendo assim, é provável que grande número de pessoas ali residentes se retire para fora, procurando passar alguns meses no gozo do ar livre, fugindo das epidemias que a infestam todos os anos, principalmente nos referidos meses. Está reconhecido pelas observações feitas que a cidade de Teresópolis, embora seja um lugar fresco, não pode ser procurada, por que é diariamente açoitada pelos ventos; é lugar pequeno e insípido – não passa de um estreito beco; as viagens da capital federal para essa cidade são assaz incômodas e dispendiosas e em chovendo tornam-se dificultosas. Para Petrópolis há facilidade e barateza de transporte, mas é lugar de clima muito úmido, o que é nocivo a saúde, mormente para as pessoas já afetadas de alguma moléstia ou que precisam convalescer-se; devendo notar-se mais que Petrópolis, é uma cidade de luxo, aristocrata, própria para diplomatas. Com a mudança da capital do Estado do Rio para ali, encheu-se a cidade de Petrópolis de grande massa de elementos perniciosos, perigosos a moralidade e a tranquilidade públicas, privando as famílias de certos gozos que outr’ora tinham. (…) Todos quantos pretenderem afastar-se por algum tempo do calor que tanto incomoda e que é origem de tantos males, que precisarem de descanso e quiserem gozar do puríssimo ar das montanhas, não encontrarão outro lugar mais apropriado que Friburgo...”(O Friburguense, de 1-10-1894.)

E referindo-se a Nova Friburgo, se escreveu: “O clima é excelente, superior ao de todos os outros povoados do Estado do Rio de Janeiro, inclusive o da cidade de Petrópolis, que já foi imperial e atualmente goza dos foros de capital. A água é pura, fresca, cristalina, abundante não só em quantidade, como no número de milagres que tem operado; a água que desce das montanhas e das cascatas de Friburgo, não tem igual, é incomparável. O clima e a água desta abençoada terra, dão alento aos vivos e ressuscitam os mortos; pode-se afoitamente dizer (…). Friburgo podia ser hoje a primeira cidade do Estado do Rio de Janeiro em tudo, como é e sempre foi a primeira no clima saudável e na água de milagres prodigiosos...”(O Friburguense, de 29-12-1895.)
E continuam as invectivas contra as concorrentes: “O que ninguém poderá negar é que Friburgo é uma cidade cheia, riquíssima de elementos naturais, encantadora, amena, aprazível, que tem merecido olhares benéficos do céu, que tem causado inveja a úmida Petrópolis, que tem como rival apaixonada Teresópolis, e como tenho dito muitas vezes, como sempre hei de dizer, como jamais cansarei de repetir: a bonina do Estado do Rio de Janeiro...”(O Friburguense, de 4-6-1893.)

Por fim, escreveu um jornalista: “O tempo vai correndo favorável aos passeiantes. Dias esplêndidos! O sol doira nas altas montanhas que nos cercam. As manhãs agradam com sua frescura. As noites encantam com o seu céu bordado de fulgurantes estrelas. Que natureza invejável. Que encantadora terra, a formosa Friburgo, a Suíça brasileira, mimosa bonina das cidades do Estado do Rio de Janeiro. Cala-te úmida Petrópolis, humilha-te estreita e ventosa Teresópolis! A verdade é uma só. Friburgo, não tem rival!” (O Friburguense, de 3-4-1892.)
Poderíamos descrever uma miríade de textos como esses publicados na imprensa da época. Nossos ancestrais pegavam pesado na disputa pelos touristes, não?

COMO LIDÁVAMOS COM AS ENCHENTES NO PASSADO?
























As enchentes sempre fizeram parte do cotidiano de Nova Friburgo. A vila de Nova Friburgo, criada em 1820, nas proximidades do rio São João das Bengalas, passaria toda a sua história lidando com as inundações desse rio. E como os friburguenses lidavam com esse infortúnio no passado remoto? Para responder a essa questão, utilizaremos como fonte os códigos de postura do século 19, nosso recorte temporal. O código de postura era uma espécie de lei orgânica municipal. A primeira fonte que localizamos prevendo situações de sinistros, como as enchentes e incêndios, foi o Código de Postura 1849. É interessante que nas posturas anteriores, a de 1822 e a de 1833, e na posterior, a de 1893, não encontramos nada que regulamentasse a ocorrência desses sinistros.



Em 1849 foi votado pela Câmara Municipal o novo Código de Posturas da vila, regulamentando diversos aspectos da vida dos friburguenses de antanho. Tanto a possibilidade de inundações quanto de incêndio eram tratados nos mesmos artigos. Quanto aos incêndios, era natural que se preocupassem, pois estávamos em uma época que deveriam ocorrer com freqüência, já que na primeira metade do século 19, a iluminação era à base da vela de sebo e os lampiões das residências utilizavam óleo de baleia e azeite. Cinco artigos do Código de Postura de 1849 regulamentavam os procedimentos que a população deveria tomar em caso de incêndio ou inundação. Da análise deles, depreende-se que a Câmara Municipal dependia da colaboração da população para debelar tais sinistros. Caso não houvesse colaboração, punia-se com pena de multa e até mesmo prisão, dependendo da gravidade do fato.



Previa o art. 227 do referido código: “Quando haja incêndio ou inundação dentro dos povoados, far-se-á o sinal de rebate e chamada, e cada vizinho do quarteirão em que a calamidade for, será obrigado a acudir ao lugar com todas as pessoas úteis da sua família. Serão multados os que não comparecerem em 10$ a 30$, quando não justifiquem impedimento atendível, e o fiscal respectivo findo o conflito e ouvindo o oficial de polícia do quarteirão, autuará imediatamente a todos os que se acharem infratores para ter lugar a cobrança das multas.”



Quando atualmente utilizamos a divisão da cidade em bairros, no passado se dividia em quarteirões, tendo em cada um deles um inspetor ou oficial de polícia. O “poder de polícia”, na maior parte do século 19, tinha uma conotação bem diferenciada da atual, ou seja, possuía um sentido mais lato sensu. Atualmente a polícia se limita a investigação(civil) e repressão(militar) de crimes, mas no passado, a polícia tinha uma função também administrativa, fiscalizando o comércio, a construção de pontes, a limpeza das ruas, etc.



Já o art. 228 dizia: “Logo que for público incêndio ou inundação, estando as ruas e o lugar às escuras, deverão todas as casas vizinhas iluminarem-se desde o ponto em que principiar o concurso destinado a socorrer: os donos das casas que assim o não fizerem serão multados com 6$ a 12$.”



Apesar de obrigar os cidadãos friburguenses a prestar socorro, o poder público, por outro lado, se preocupava com os danos causados ao patrimônio dos que auxiliavam, conforme constatamos no artigo 229: “Toda pessoa que possuir máquinas e instrumentos úteis para os socorros de incêndio ou inundação, tais como bombas d´água, barris, tinas, baldes, barcos, carros, carroças, escadas, machados, serras, calabrês, moitões, cordas, correntes e couros ou outros quaisquer de préstimo, será obrigado a concorrer com os mesmos objetos, entregando-os na ocasião do incêndio ou inundação à disposição das autoridades presentes, e com direito a haver qualquer dano ou prejuízo que neles sofrer: os que os recusarem em tais circunstâncias serão imediatamente presos até pagarem 30$ de multa, além de ficarem obrigados aos danos que causarem pela sua oposição.


E ainda, o art. 230: “As casas que tiverem águas correntes ou poços nas imediações dos incêndios serão obrigados a franquear a entrada para se tirar a água, podendo, porém os respectivos donos exigir das autoridades as medidas de precaução necessárias para não serem prejudicados: os que se opuserem à execução desta providência incorrerão nas penas do artigo antecedente.” Finalmente o art. 231: “A negação de socorros e serviços de qualquer natureza, ordenados ou requeridos pelos fiscais e pelas autoridades em caso de incêndio ou inundação será punida com 10$ a 30$ de multa, e mais 2 a 8 dias de cadeia segunda a gravidade das circunstâncias.”



Segundo fontes iconográficas(fotografias), as enchentes continuam a ser uma constante em Nova Friburgo durante todo o século 20. É interessante como as residências do centro da cidade, muitas existentes até hoje, não foram adaptadas para suportar tais infortúnios. Pelo contrário, quase todas as residências têm porão em sua base que certamente se enchiam de água nas inundações. Os porões objetivavam, nos parece, minimizar o impacto da umidade do solo, que causava doenças respiratórias. Desde a fundação da vila até o presente momento são 191 anos de convivência com as enchentes do Rio Bengalas, um déjà vu em nossa história. Foi necessária uma catástrofe de proporções aterradoras para que se discutisse um melhor planejamento da Nova Friburgo. Entramos para a história como um local onde ocorreu uma das maiores catástrofes mundiais nos últimos cento e dez anos, na categoria de desmoronamentos. Vamos ver se igualmente entramos para história como uma cidade que conseguiu criar um plano para minimizar as catástrofes naturais, como faz Tóquio com os terremotos.










A História dos Cinemas em Nova Friburgo

Cinema Eldorado: Acima uma encenação teatral e abaixo a sua fachada principal na Praça Dermeval Barbosa Moreira



Acima: Interior do Cinema Leal


O século 19 foi um período profícuo para os avanços tecnológicos. Cada vez mais surgiam invenções que impactavam a sociedade oitocentista: Surgiram a fotografia (1839), o fonógrafo (1877) e o aparelho cinematográfico (1895). Nova Friburgo conheceu no fin de siècle 19, o animatógrafo: o cinema de hoje. Segundo a notícia intitulada “O Animatographo”, publicada em A Sentinella de 10 de abril de 1898, o aparelho de projeção consistia em uma bem combinada união da fotografia instantânea, dos efeitos de luz e da passagem dos quadros, que se sucedia com a mesma rapidez dos movimentos naturais, de modo a reproduzir cenas animadas com uma velocidade surpreendente. Inicialmente o aparelho de projeção foi instalado no Cassino Friburguense, pela primeira vez visto na cidade, constituindo “uma novidade do mais vivo atrativo e uma das maravilhas destes tempos de progresso”, dizia um jornal da época. Posteriormente, passou a haver sessões todas as noites, das 18 às 21 horas, no Animatógrafo Joly, localizado na Rua Gal. Argolo, atual Alberto Braune. Entre os filmes vistos pelos friburguenses no século 19 destacavam-se: A Tentação de Santo Antônio, Os Negros de Dackar ao Redor do Vapor, A Briga do Baleeiro com o Passageiro, A Entrada do Czar da Rússia em Paris.

Já no século 20, o português Francisco Leal, da empresa Leal & Cia, inaugura um cinema no final da Praça XV de Novembro, atual Getúlio Vargas, onde hoje se encontra impropriamente a rodoviária urbana. Essa sala de projeção é inaugurada em 1912 com o nome de Cinema Leal. Como quase todo lusitano influenciado pelos mouros, o Cinema Leal era um prédio de madeira em estilo mourisco.

Estilo mourisco do Cinema Leal, no final da Praça Getúlio Vargas.
Esse cinema foi posteriormente transferido para o Teatro D. Eugênia, passando a denominar-se Cine Teatro Leal. Muitos cinemas surgiram nessa mesma década: Cinema São João, Cinema Éden, Ideal Cinema, Cine Nacional, Cinema Odeon, sendo que esse último, de propriedade de José El-Jaick e outro sócio, que funcionava na esquina da Rua Farinha Filho, sofreu um incêndio em março de 1915, destruindo todas as suas instalações. No local inaugurou-se o Cine São José, em 1917.

Cinema Glória


Já na década de trinta surgem o Cinema Popular(1929) e o Cinema Império(1931). O Teatro Dona Eugênia, a partir de 1930, passou a chamar-se Cine-Teatro Leal. O D. Eugênia passa a ter essa denominação de “cine-teatro” porque, no decorrer da década de 1920, o “teatro de revista” começou a ser adaptado para divertir as platéias dos cinemas nos intervalos da projeção dos filmes. É sempre bom esclarecer que outrora a projeção era interrompida para se trocar o “rolo” do filme. Foi a era dos cines-teatro e a simbiose entre o cinema e o teatro aumentava ainda mais a platéia. O Cine-Teatro Leal tinha sessões todos os dias, sempre às 19:00 horas. Nas quartas-feiras tinha a sessão chic, que ganhou essa denominação porque se cobrava somente meia entrada do “belo sexo” e conseqüentemente iam muitas mulheres. No domingo tinha sessões às 13:00, farwest, uma espécie de matinée, para o público infantil. A seguir sessões às 15:30 e às 19:00 horas.


Cinema Odeon


No final da década de 1920, o Cinema Glória, localizado na Praça Dermeval Barbosa Moreira, sofreu igualmente um incêndio. Entretanto, em 24 de julho de 1940, surge no local do outrora Cinema Glória, o Cine Eldorado, e a primeira película exibida foi a “Opereta Balalaika”. O Cine Eldorado se transforma no meeting da alta sociedade friburguense e a sessão chic passa a ser a das 20:00 horas devido a freqüência da high society. De acordo com Leyla Lopes de Mello na crônica “Uma data, muitas recordações”, as mulheres trajavam elegantes tailleurs, vestidos de veludo realçados por colares de pérola e casacos de pele devido ao rígido inverno de Nova Friburgo. Já os homens trajavam impecáveis ternos de casimira inglesa, colete, gravata e chapéus das marcas Mangueira, Prado e Tamenzoni. A propósito, era proibida a entrada de homens sem paletó nos cinemas. Enquanto aguardavam a exibição do filme ouvia-se Glen Miller e outros clássicos. Já as sessões de 15:30, das tardes de domingo, era o rendez vous da juventude friburguense. Quem não chegasse com uma hora de antecedência, não encontrava mais lugar. Dentro do cinema os rapazes faziam footing, ou seja, caminhavam pelas aléias em torno das fileiras de poltronas, provocando frisson e o pulsar descompassado no coração das mocinhas. Muito mais importante do que a fita que se exibia, era a oportunidade de um namoro furtivo quando se apagavam as luzes. De acordo com Leyla “quantos encontros e desencontros, quantos inícios e fins de romances, quantas alegrias e quantas mágoas, ao ver a pessoa amada ao lado da outra”.


Na década de 50 surge o Cine Marabá(1950) na Rua Leuenroth, edificado onde era o afamado Hotel Leuenroth, que hospedava o Imperador D. Pedro II. Já nessa década os cinemas se expandem para os bairros da cidade: surgem em Olaria o Cine São Clemente(1950), no Cônego o Cine Sant’Anna(1955), em Amparo o Cine Theatro Almeida. Finalmente, na década de sessenta, surgem o Cine São José(1963) e o Cine São Luiz(1967), sendo o Cine São José o último cinema do município, fechando suas portas no ano de 1994.



Nova Friburgo ficou sem a sétima arte durante muitos anos até que surgisse um shopping na cidade com salas de cinema. Nesse ínterim, o Country Clube chegou a oferecer exibições de filmes em seu teatro, mas não chegou a atingir o grande público, até porque as pessoas achavam que somente os sócios poderiam freqüentar esse espaço. Mas a crise dos cinemas foi estrutural. No Brasil inteiro fecharam-se os tradicionais cinemas e muitos se transformaram em igrejas evangélicas. Esse fato indignou a população de tal maneira, que surgiu uma lei proibindo que esses estabelecimentos se prestassem a tal finalidade. Mas o cinema nunca deixou de ser um importante espaço de sociabilidade, mudando-se apenas o seu formato. Atualmente são pequenas salas de cinema e os recursos áudios-visuais, com alta tecnologia, faz com que continuem a ser um local de atração para as novas e antigas gerações. Concluindo, pode-se atribuir o auge do cinema em Nova Friburgo, na década de 40 do século 20, com o Cine Eldorado, que funcionou durante 36 anos, fechando suas portas em 31 de maio de 1976. Foi uma época em que assistir a um filme no cinema era, simplesmente, algo secundário. O cinema era um local para ver e ser visto.


Teatro D. Eugênia. Hoje no local, ed. Gustavo Lira, na Rua Augusto Spinellli.

Related Posts with Thumbnails
powered by Blogger | WordPress by Newwpthemes | Converted by BloggerTheme