DEPOIS DE FORASTEIRO, AMPARO VOLTA ALTANEIRO



No último quartel do século XVIII, muitos bandoleiros e garimpeiros de Minas Gerais migraram para os Sertões do Macacu em busca de novas lavras de ouro. Os garimpeiros tinham como liderança Manoel Henriques, conhecido pela alcunha de Mão de Luva. Quando Jerônimo de Castro de Souza chegou a essa região, denominava-se Sertões do Macacu, que depois viria a ser Cantagalo. Muitas datas de terras estavam sendo distribuídas e Jerônimo, como vimos em matéria anterior, foi beneficiário de uma delas, como prêmio pela delação feita contra Tiradentes. Em 1820, houve um desmembramento de parte de Cantagalo para a formação da Vila de Nova Friburgo, para abrigar um Núcleo Colonial de Suíços. A sesmaria(terras) de Jerônimo, localizada nessa região, passou a pertencer a Freguesia de São João Batista, no termo de Nova Friburgo. Como a região, onde hoje parte é Amparo, desenvolvesse sobremaneira em razão das plantações de café, em 13 de outubro de 1857, o decreto 969, erigiu aquela região ao status de freguesia, aumentando-lhe a importância, sob a denominação de Freguesia de São José do Ribeirão. As terras de Amparo encontravam-se incluídas nessa freguesia.



Com a proclamação da República, futricas políticas do governo Francisco Portela culminaram com a perda de Nova Friburgo do 3° distrito de São José do Ribeirão, que se tornou, em julho de 1891, por decreto, município de São José do Ribeirão, tendo a sede na povoação do mesmo nome. Em 1891, Bom Jardim passou a ser distrito do recém criado município de Cordeiro. Porém, já em maio de 1892, uma nova reforma administrativa extinguiu o município de Cordeiro e devolveu as terras de Bom Jardim para Cantagalo, no qual sempre pertencera. Igualmente, devolveu São José do Ribeirão para Nova Friburgo por faltar a essa localidade requisitos essenciais para tornar-se um município. Devido a instabilidade política, a Lei nº 37 de 17 de dezembro de 1892, novamente altera a região: São José do Ribeirão volta a ser município. Em 5 de março de 1893, o distrito de Bom Jardim deixa de pertencer a Cantagalo e é erigido a município com o mesmo. São José do Ribeirão passa igualmente a pertencer-lhe. Logo, definitivamente Amparo passaria a pertencer a Bom Jardim. A população de Amparo ficou desesperada culminando com uma intensa mobilização para o retorno a Nova Friburgo.


Diante de todo esse imbróglio, que sempre tem interesses político e econômico das elites por detrás dessas disputas territoriais, fica a pergunta: por que o pacato distrito de Bom Jardim ganharia tanta força política, desmembrando-se de Cantagalo e anexando a Freguesia de São José do Ribeirão? Provavelmente, o responsável por esse up grade de Bom Jardim teria sido Luiz Corrêa da Rocha, o maior latifundiário da região, ao qual o território onde hoje é Bom Jardim, praticamente lhe pertencia. O coronel Luiz Corrêa da Rocha foi quem arrematou, em leilão, em 1896, o Engenho Central do Rio Negro, localizado em Laranjais, hoje distrito de Itaocara. Luiz Corrêa da Rocha, curiosamente, será um dos defensores da desanexação de Amparo do município de Bom Jardim e tem nome gravado em uma estela, entre o nome de outros, na praça principal de Amparo, tecendo-lhe gratidão.


O articulista Nelson Kemp, em matéria publicada em A Voz da Serra(20.8.1961), informa-nos que na ocasião do desmembramento, Eugênio e Pedro Gripp, adversários na política de Amparo, uniram-se para eleger Pedro Gripp a vereador na Câmara de Bom Jardim. Empossado, Pedro Gripp requereu o desmembramento de Amparo do município de Bom Jardim. Já em Nova Friburgo, Galdino do Valle Filho, deputado estadual, atendendo aos clamores da comunidade, igualmente apresentou projeto de lei, em 1911, solicitando a transferência do distrito de Amparo de Bom Jardim para Nova Friburgo. Esse projeto, certamente, atendia aos interesses políticos de Galdino do Valle Filho. Cabe ressaltar ainda que os Galiano das Neves não ficaram nada satisfeitos com a anexação da Fazenda Cachoeira a Bom Jardim.




No entanto, acreditamos que quem deu a palavra final foi o Coronel Luiz Corrêa da Rocha, vereador na ocasião juntamente com Manoel Corrêa da Rocha. Em 10 de outubro de 1911, Amparo volta a fazer parte de Nova Friburgo, incorporado ao 1° distrito, e em 1924, passa a ser distrito, o quarto do município. Com o retorno ao berço natural, os amparenses deixaram consignado em seu hino: “depois da quatro lustros, forasteiros, sem poder aclamar a nossa terra, a Friburgo voltamos altaneiros....sempre fomos friburguenses e seremos!...a Friburgo aportamos destemidos, a Bom Jardim, porém, nunca olvidando...”


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1 Response to "DEPOIS DE FORASTEIRO, AMPARO VOLTA ALTANEIRO"

Unknown disse...

Fiquei muito feliz em encontrar este blog.
Está publicado em algum livro esta estória de Jeronimo de Castro e Souza?
É possivel identificar o Jeronimo em alguma destas fotos?? Existem outras fotos dele??

Agradeço!

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