A Vila de Porto das Caixas fora outrora lugar de grande comércio e parada dos tropeiros que transportavam café de Cantagalo. Nessa estação, a linha bifurca-se, seguindo a de Cantagalo para a esquerda e a de Campos para a direita. Passa-se por pontes, pontilhões e avistam-se as ruínas da Igreja do Convento dos Jesuítas. De Porto das Caixas chega-se a Sant´Anna de Japuhyba às 08:35 da manhã, com pequenas paradas em Sambaetiba e Papucaia. Segue o trem então rumo a Cachoeiras sempre guiado pelo Rio Macacu. Próximo às 9:00 horas da manhã, depois de um percurso de
UMA VIAGEM DE TREM A NOVA FRIBURGO: O PASSADO MANDA LEMBRANÇAS
A Vila de Porto das Caixas fora outrora lugar de grande comércio e parada dos tropeiros que transportavam café de Cantagalo. Nessa estação, a linha bifurca-se, seguindo a de Cantagalo para a esquerda e a de Campos para a direita. Passa-se por pontes, pontilhões e avistam-se as ruínas da Igreja do Convento dos Jesuítas. De Porto das Caixas chega-se a Sant´Anna de Japuhyba às 08:35 da manhã, com pequenas paradas em Sambaetiba e Papucaia. Segue o trem então rumo a Cachoeiras sempre guiado pelo Rio Macacu. Próximo às 9:00 horas da manhã, depois de um percurso de
UMA CIDADE COSMOPOLITA - Um Inquérito sobre Nova Friburgo – Parte I
“Tem toda a razão o Sr. Alberto de Torres quando em seus notáveis escritos, assina que nenhum outro país pode, talvez, como no nosso, realizar o tipo de sociedade política cosmopolita. Nova Friburgo, a formosa cidade serrana situada na Serra dos Órgãos, a 880 metros acima do nível do mar, confirma o acerto. Nela existem e votam cidadãos de origens e raças diferentes[aqui ele quer ser referir mais às nacionalidades], perfeita e legalmente incorporados ao meio e à nossa pátria. Na vereança tiveram e têm assento alemães, suíços, franceses, portugueses, italianos e espanhóis. O alistamento eleitoral é composto de turcos [libaneses], dinamarqueses, ingleses e holandeses. Nos cargos públicos figuram, igualmente, portugueses, espanhóis e italianos. Em todos os ramos da atividade humana, ei-los representados, senão em troncos [os primeiros imigrantes], ao menos nas descendências.(...) É ordeira, não há dúvida, a população friburguense e, na sua generalidade, honesta. Não há roubos, senão esporádicos, cometidos por adventícios. Os crimes são espaçadíssimos. Poucas rixas, de taponas e ponta-pés, de raivas e de dores passageiras. Mas em compensação há bate bocas tremendos nos bancos da Praça Quinze [atual Praça Getúlio Vargas], por questões partidárias, prenhes de ameaças, descomposturas e esconjuros. A política empolga, agita, absorve, quer a elite da terra, quer os seus satélites.(...)No auge da luta, quase todos perdem a compostura, salvo honrosas exceções, pondo máscaras, como os carnavalescos, para dançar a tarantela costumeira na folia partidária. (...) Numa cidade de seis a oito mil almas [aqui refere-se à população do centro da cidade], como Friburgo, há três folhas hebdomadárias [jornais], retintamente partidárias, quando poderiam existir só duas, uma diária e noticiosa. As fraudes eleitorais são cometidas à luz meridiana. Só encontram esfarrapada desculpa no serem miniatura das feitas nos grandes centros. Exemplo do alto. E fraco consolo é saber-se que, em todos os tempos, mais ou menos, o mal lavrou os nossos arraiais políticos.(...)
Florescem criações admiráveis. A nossa falta de persistência deixou-as morrer. Assim, a criação desse estabelecimento hidroterápico, fundado e dirigido por ilustre médico, o Dr. Eboli[refere-se ao Instituto Hidroterápico que faliu em 1895, dez depois do falecimento de Eboli]. A tradição só recolheu duas coisas: um grande edifício, com pequena parte dos aparelhos hidroterápicos, hoje servindo de colégio das Irmãs Doroteias, para meninas (internato) e uma inscrição, em pedra mármore, na face externa da parede, correspondente ao local das duchas, assim concebida: ‘Ao benemérito italiano Dr. Carlos Eboli, fundador deste estabelecimento hidroterápico, 1881-1884. Obra de seu saber, fonte de vida, renome e glória de Nova Friburgo. Homenagem de seus admiradores. 25 de junho de 1909.’ (...) Na seção hidroterápica do formulário de Chenoviz (17° edição), há uma descrição completa do estabelecimento, do Hotel Central, com 180 cômodos, e todos os elementos de bem estar e conforto, além de dados climatérios e atmosféricos, abonadores da privilegiada montanha. Na fachada lateral figuram ainda, em pintura desbotada, estas palavras melancólicas: Hotel Central – Duchas. Nada mais recorda o criador e sua inteligente iniciativa. (...) E onde se tratavam saúdes de adultos, onde estivera a vida, a instrução trata almas de crianças.
Instituto Sanitário Hidroterápico e Hotel Central em Nova Friburgo
ENCHENTES, COTIDIANO E HISTÓRIA
Logo, passando uma vista d´olhos no passado, fica claro que o problema das enchentes não tem como marco inicial as tragédias naturais dos últimos anos, provocadas por mudanças climáticas, como vaticinam algumas pessoas. No entanto, a ocorrida em 2011, vai ficar na memória da população em virtude dos desmoronamentos dos morros, considerada como uma das maiores cem tragédias, nessa categoria, na história da humanidade. Nova Friburgo ocupou espaço na mídia internacional em razão desse sinistro. Não bastasse isso, a história de Nova Friburgo ainda é matizada pela passagem de três prefeitos num só mandato acarretando a descontinuidade de políticas públicas. As eleições municipais ocorrem nesse ano, tendo o efeito simbólico de se saber se os friburguenses desejam mudança ou continuidade, quer em relação ao executivo(prefeito), quer em relação à Câmara Municipal. Somos todos cidadãos ativos para responder, nas urnas, aqueles que serão os timoneiros de Nova Friburgo nos próximos anos.
Do Jockey Club à cavalgada de São Jorge: Da sociabilidade mundana ao rito religioso
Friburgo Jochey Club - 1911
Ao longo da história, o fato de se possuir um cavalo e de se transformar em um cavaleiro, sempre deu status aos homens. Na Antiguidade, o imperador romano Calígula elegeu seu cavalo senador. Mas muito antes dele, Alexandre, O Grande, tinha no seu cavalo, Bucéfalo, o seu maior aliado nas batalhas. O cavalo sempre foi um companheiro de reis e nobres, tornando-se um esporte da aristocracia em várias nações europeias. No Brasil, no século XIX, com a europeização da sociedade brasileira, o turfe, ou seja, as corridas de cavalo, passaram a ser um esporte e uma forma de sociabilidade das elites. O turfe foi introduzido no Brasil pelos ingleses, influenciando as modas e os modos da aristocracia brasileira. Em 1877, já há o registro de corridas de cavalo promovidas nas ruas da vila de Nova Friburgo.
Em 1883, surge, em Nova Friburgo, o clube atlético denominado General Osório que promovia corridas de cavalo na rua do mesmo nome. Há o registro ainda do Clube Atlético Bargossi, que pediu permissão à Câmara para colocar postes de raia na Praça do Suspiro, para que se realizassem corridas aos domingos e dias santificados. Por iniciativa da família do Barão de Nova Friburgo, os Clemente Pinto, foi fundado em 22 de abril de 1881, o Jockey Club de Nova Friburgo. A família inauguraria igualmente, em 12 de julho de 1885, o prado do Jockey Club Cantagalense, no Palacete do Gavião. O primeiro presidente do Jockey Club de Nova Friburgo foi o Barão de São Clemente, fazendo parte do seleto club Augusto Marques Braga, Pedro Eduardo Salusse, o médico e presidente Câmara Municipal Ernesto Brazílio, entre outros. Do conselho fiscal participavam Elias Antonio de Moraes, o 2° Barão de Duas Barras, e o empresário do ramo hoteleiro, Carlos Engert. Não se pode precisar, mas em dado momento o Jockey Club de Nova Friburgo se extinguiu.
Nos dias de competição, era um alvoroço na cidade. Ainda cedo, todas as garagens de bicicletas eram procuradas por visitantes das localidades próximas, que, em trajes esportivos, cortavam alegres as extensas alamedas da Praça 15 de Novembro (atual Getúlio Vargas). Às 11:00 horas, todos se dirigiam à Estação da Leopoldina para recepcionar as “embaixadas” de Niterói, Petrópolis e da “Força Pública”. Eram recebidos com “hurras vibrantes” por todos os esportistas presentes na estação. As torcidas, os sportmen, vinham a Nova Friburgo animar os seus atletas. Os cariocas que vinham assistir ao turf friburguense, ficavam geralmente hospedados no Hotel Central (hoje edifício Folly), Floresta e Suspiro. Como é comum nesses espaços de sociabilidade, as corridas de cavalo atraíram a alta sociedade, sendo ocasião para o exibicionismo de indumentárias e, segundo o jornal A Paz, “as arquibancadas apresentavam o que de mais elegante possui a nossa sociedade”.
Observação: Todas as fotos acima são da Cavalgada de São Jorge em Nova Friburgo.
As Folias de Reis em Nova Friburgo
A maioria das folias têm como instrumentos uma sanfona, um pandeiro e a bateria. As mais ricas são mais bem aparelhadas, como é o caso da Estrela da Guia, que possui um acordeão, uma caixa, cinco violões, duas violas caipiras, uma rabeca(violino), um bandolim, quatro cavaquinhos e uma caixa de bumbo para marcar a requinta. Mas os instrumentos básicos são a sanfona, o bandolim e a caixa. No entanto, para Tarden, o violão, a viola e o violino fazem a diferença. E a figura do palhaço? O palhaço não está presente em todas as folias. As folias de Minas Gerais, segundo Tarden, não tem palhaço. No entanto, há folias em Nova Friburgo que tem até três palhaços. O palhaço na folia representa os soldados de Herodes, isso porque ele mandou seus soldados se disfarçarem de palhaço.
“Eu de todas as mulheres, dali eu fui a escolhida, pelo Divino Espírito Santo, a serva de Deus preferida. No ventre da Virgem Maria, um menino foi gerado, e antes do nascimento, ele foi anunciado.” O versos da folia são rimados, como as trovas, mas alguns cantam sem rimas. “Os três reis foram chegando, cada passo mais além, afinal que até chegaram, no presépio de Belém.” Curiosamente as mulheres não participam das folias, e a sua aceitação é um fato raro. Nas apresentações diante do presépio, que duram entre meia hora e quarenta minutos, há uma ordem, sendo que uma folia tem que aguardar o término do trabalho da outra. Cada folia tem a sua cor, são bicolores, mas não são como as escolas de samba e os times de futebol em que cada qual tem a sua cor. Podem até repetir a mesma cor. Cada folia tem o seu canto, puxado pelo mestre.
A Hidroterapia: A cura pela água
Abaixo: fotos da estação de águas de Caxambu - MG
Abaixo, estação das águas de São Lourenço - MG
A hidroterapia, terapêutica pela água fria, já era conhecida e empregada nos séculos passados. Deve-se a Eduard Hallmann (1813-1855), de Hanover, Alemanha, o estudo científico da hidroterapia. No entanto, como método baseado em princípios racionais e científicos foi adotada pela primeira vez no século XIX, na Europa, por Vincenzi Priessnitzovi(1799-1851). Priessnitzovi nasceu em Gräfenberg, que atualmente faz parte da República Checa. Em 1827, fundou um estabelecimento hospitalar destinado ao tratamento de doenças crônicas onde a água fria era a única terapêutica adotada. Priessnitzovi encontrou adeptos em várias partes do mundo e o método terapêutico da hidroterapia ficou conhecido e praticado em toda a Europa e fora dela. No livro Meine Wasserkur “Meu Tratamento pela Água”, publicado em 1887, pelo clérigo Sebastian Kneipp, o sacerdote alemão ensinou que a água fornecia à força vital humana elementos de combate a diversas enfermidades, tais como bronquites, reumatismo, neurastenia, etc. A terapêutica hídrica encontrou adeptos principalmente entre os pacientes das classes abastadas. No Brasil, um dos primeiros e principais prosélitos foi o dr. Antônio Ildefonso Gomes(1794-1859), cirurgião, estudioso de botânica e tão devotado ao sistema que até ganhou, no Rio de Janeiro, o cognome de “Doutor da água fria”. Publicou em 1848, o seguinte trabalho: “Manual de hidro-sudo-terapia ou diretório para qualquer pessoa em sua casa curar-se de uma grande parte das enfermidades que afligem o corpo humano, não empregando outros meios que suar, água fria, regime e exercício.”
Em Nova Friburgo, podemos atribuir a Gustavo Leuenroth, ex-mercenário alemão, a primeira “Casa de Banhos” em meados do século XIX. Com a hidroterapia preconizada por conceituados médicos nacionais e estrangeiros, possuindo uma base científica, apoiado por políticos e tendo como clientela as classes abastadas, era natural que se expandisse. Em Petrópolis, o francês Antonie Court instalou, em 1877, o Imperial Estabelecimento Hidroterápico, que o Imperador Pedro II frequentava amiúde. Já em Nova Friburgo, foi um italiano, natural de Nápolis, quem trouxe as qualidades terapêuticas da hidroterapia para a então vila. Tratava-se de Carlos Eboli(1832-1885), médico formado em 1856, pela Faculdade de Paris, sócio correspondente da Imperial Academia de Medicina. Eboli edificou, em Nova Friburgo, o que seria considerado o maior estabelecimento de hidroterapia da América Latina: o Estabelecimento Sanitário Hidroterápico.
Em 1872, inaugurou esse estabelecimento em sociedade com o médico Fortunato Correia de Azevedo. Utilizava as denominações de Casa de Saúde, Casa de Duchas, Casa de Banhos e como vimos, Estabelecimento Sanitário Hidroterápico. Não bastasse a ousadia de seu projeto, Eboli nos legou o lindo prédio em estilo neoclássico que é o Colégio N.S. das Dores. Nesse exato local, funcionava o Hotel Central, que na realidade, era o prédio principal, tendo como anexo o Estabelecimento Hidroterápico. O hotel possuía acomodações para 180 hóspedes. O Estabelecimento Hidroterápico tinha um escritório na Rua Primeiro de Março, no Rio de Janeiro, onde os clientes poderiam ter uma consulta com o Dr. Ribeiro de Almeida e obter igualmente informações sobre a hidroterapia. Foi o primeiro prédio na cidade a utilizar luz elétrica, isso quando a eletricidade só chegaria a Nova Friburgo mais de 30 anos depois. Um investimento de tal monta na então pacata vila de Nova Friburgo devia-se ao fato de o município já possuir notoriedade em relação às suas qualidades climáticas, salubridade e possivelmente fartos e notáveis mananciais de água, pois, do contrário, não se justificaria um estabelecimento de hidroterapia. Clima e saúde, eis um paradigma no inconsciente coletivo oitocentista. A hidroterapia era preconizada para a cura dos que sofriam de enfraquecimentos, dispepsias, moléstias nervosas, tuberculose, beribéri, reumatismo, bronquite e outras moléstias. O tratamento à base de hidroterapia, associada às qualidades do clima de Nova Friburgo, atraiu uma chusma de enfermos e turistas à cidade, sendo o mais ilustre de todos, o imperador D. Pedro II e a Princesa Isabel, que procurou a hidroterapia para se curar de sua suposta infertilidade.